Minhas Leituras

Criar um Site Grátis Fantástico
Minhas Leituras

Brené Broun

 

Leitura de A Coragem de ser Imperfeito

 

Editora: Sextante. Rio de Janeiro. 2016

Título Original: Daring Greatly

Tradução: Joel Macedo

 

I – Escassez: Por Dentro da Cultura de Não Ser Bom o Bastante

 

Analisando o narcisismo pelas lentes da vulnerabilidade

 

01 – A vontade de acreditar que o que estamos fazendo tem importância é facilmente confundida com o estímulo para sermos extraordinários. (p. 21)

02 – As ideias de grandeza e a necessidade de admiração parecem um bálsamo para aliviar a dor de sermos tão comuns e inadequados. (p.21)

 

A fonte da escassez [vergonha – comparação – desmotivação]

 

03 – O oposto de viverem escassez não é cultivar o excesso. (p. 25)

04 – Os elementos mais raros em uma sociedade da escassez sãoa disposição para assumir nossa vulnerabilidade e a capacidade de abraçar o mundo a partir da autovalorização e domerecimento. (p. 26)

 

II – Derrubando os Mitos da Vulnerabilidade

 

Mito 1: “vulnerabilidade é fraqueza”

 

05 – Quando passamos a vida nos afastando e nos protegendo de um estado de vulnerabilidade ou de sermos vistos como sentimentais demais, ficamos contentes quando os outros são menos capazes de mascar seus sentimentos. (p. 27)

06 – Sentir é estar vulnerável (p. 27)

07 – Nossa rejeição da vulnerabilidade deriva com frequência da associação entre ela e as emoções sóbrias como o medo, a vergonha, o sofrimento, a tristeza e a decepção – sentimentos que não queremos abordar mesmo quando afetam profundamente a maneira como vivemos, amamos, trabalhamos e até exercemos a liderança. (p. 28)

08 – Quando estamos vulneráveis é que nascem o amor, a aceitação, a alegria, a coragem, a empatia, a criatividade, a confiança e a autenticidade. (p. 28)

09 – Vulnerabilidade –e incerteza, risco e exposição emocional. (p. 28)

10 – O desejo de nos expor nos transforma. Ele nos torna um pouco mais corajosos a cada vez. (p. 34)

 

Mito 2: “vulnerabilidade não é comigo

 

11 – A vida é vulnerável. (p. 34)

12 – A palavra traição evoca experiência de falsidade, mentira, quebra de confiança, omissão de defesa quando nosso nome está envolvido em intrigas ou fofocas e de não sermos escolhidos como alguém especial entre outras pessoas. (p. 40)

13 – O descompromisso gera humilhação e desperta nossos maiores medos: de ser abandonado, desvalorizado e desprezado. (p. 41)

14 – Com os filhos, as atitudes têm mais peso do que as palavras. (p. 41)

15 – [...] a confiança é um produto da vulnerabilidade que cresce como temo e exige trabalho, atenção e comprometimento total. (p. 42)

16 – Só depois de aprendermos a receber com um coração aberto é que poderemos nos doar com um coração aberto. (p. 42)

 

III – Compreendendo e Combatendo a Vergonha

 

Vulnerabilidade e vergonha

 

17 – [...] se não nos reconciliarmos com nossa vergonha, com nossos conflitos, começaremos a acreditar que há algo errado conosco, que nós somos maus, defeituosos e, pior ainda, começaremos a agir com base nessas crenças. (p. 47)

18 – [...] vive com ousadia exige autovalorização. (p. 50)

19 – Às vezes, quando ousamos caminhar na área da vida, o maior crítico que enfrentamos somos nós mesmos. (p. 51)

20 – Somos psicológica, emocional, cognitiva e espiritualmente criados para o amor, para os relacionamentos e para a aceitação. (p. 52)

21 – Vergonha é o sentimento intensamente doloroso ou a experiência de acreditar que somos defeituosos e, portanto, indignos de amor e aceitação. (p. 52)

 

Depois de compreender o que é a vergonha, o que se deve fazer?

 

22 - Quatro elementos de resiliência à vergonha: (p. 58)

A – Reconhecer a vergonha e compreender seus mecanismos. Vergonha é biologia e biografia.

B – Praticar a consciência crítica.

C – Ser acessível.

D – Falar da vergonha.

23 – Empatia é se conectar como sentimento que alguém está experimentando, e não com o acontecimento ou a circunstância. (p. 62)

 

Grandes e todo-poderosos

 

24 – Encobrir a vergonha machuca tanto quanto expô-la. (p. 73)

Irritados ou retraídos

25 – [...] quando os homens aprendem a lidar coma vergonha, isso muda e eles passam a reagir com consciência, autovalorização e empatia. (p. 74)

 

As palavras que nunca podemos desdizer

 

26 – [...] só podemos amar alguém na medida em que amamos a nós mesmos. (p. 81)

27 – Não é a falta de declarações de amor que nos coloca em dificuldade nos relacionamentos; o que produz as feridas é deixar de praticar o amor. (p. 82)

 

Tornando-se autêntico

 

28 – [...] a vergonha é o medo de perder vínculos – o medo de não sermos dignos de amor e de aceitação. (p. 84)

 

IV – Arsenal Contra a Vulnerabilidade

 

Paradoxo: vulnerabilidade é a última coisa que quero senti em mim, mas a primeira que procuro no outro. (p. 86)

 

Escudos universais contra a vulnerabilidade

 

O escudo da alegria como mau presságio

 

29 – [...] quando perdemos a capacidade ou o desejo de ficar vulnerável, a alegria se torna algo que vemos com profunda desconfiança. (p. 90)

30 – Em uma cultura de profunda escassez – de nunca nos sentirmos seguros ou certos o batante -, a alegria parece uma farsa. (p. 90)

 

Viver com ousadia: praticar a gratidão

 

31 – Será que merecemos nossa alegria, sendo pessoas tão incapazes e imperfeitas? Com tantas crianças famintas e tantas guerras no mundo, quem somos nós para sermos dignos de algria? (p. 94)

 

Três lições sobre alegria e luz: (p. 93)

A – A alegria nos visita em momentos comuns. Não corra o risco de deixar a alegria passar despercebida mantendo-se ocupado demais perseguindo o extraordinário.

B – Seja grato pelo que tem. [...] Quando você valoriza o que tem, também está valorizando o que o outro perdeu.

C – Não desperdice alegria. [...] sempre que nos permitimos nos entregar à alegria e ceder a esses momentos, nós fortalecemos nossa resistência e cultivamos esperança.

 

O escudo do perfeccionismo

 

32 – As coisas mais preciosas e importantes chegaram em minha vida quando tive coragem para ser vulnerável, imperfeito e tolerante comigo mesmo. O perfeccionismo não é o caminho que nos leva aos nossos talentos e ao sentido da vida; ele é um desvio perigoso. (p. 97)

33 – [...] não há manei de se do minar uma percepção (perfeccionismo), por mais tempo e energia que se gaste tentando. (p. 99)

 

Viver com ousadia: apreciar a beleza das falhas

 

34 – [...] o amor próprio tem três elementos: generosidade consigo mesmo, humildade e consciência. (p. 100)

35 – As duas formas mais poderosas de estabelecer um vínculo com alguém são o amor e a aceitação – ambas necessidades inegociáveis de homens, mulheres e crianças. (p. 108)

36 – Vínculo: É a energia criada entre pessoas quando elas se sentem vistas, ouvidas e valorizadas; quando elas podem dar e receber sem julgamento. (p. 109)

37 – Aceitação: É o desejo humano inato de ser parte de alguma coisa maior do que nós. (p. 109)

38 – Como a verdadeira aceitação só acontece quando apresentamos nosso eu autêntico e imperfeito para o mundo, o nosso senso de aceitação nunca pode ser maior do que no nível de autoaceitação. (p. 109)

39 – Acredito que assumir o nosso valor é o ato de reconhecimento de que somos sagrados. (p. 111)

 

Viver com ousadia: deixar as intenções claras, impor limites e cultivar vínculos

 

40 – Grande parte da beleza da luz se deve à existência das trevas. (p. 110)

41 – Compartilhar algo pessoal para ensinar ou fazer um processo avançar pode ser saudável e eficaz, mas revelar informações como um modo de trabalhar seus problemas pessoais é inapropriado e antiético. (p. 120)

 

O escudo desconfiança, crítica, frieza e crueldade

 

42 – Se sua decisão for entrar na arena e viver com ousadia, prepare-se para dar a cara a tapa. (p. 123)

 

Viver com ousadia: andar na corda bamba, praticar a resiliência à vergonha e avaliar a realidade

 

43 – O medo de ser vulnerável pode desencadear crueldade, crítica e desconfiança em todos nós. Assumir a responsabilidade pelo que dizemos é o modo de verificar nossas intenções. (p. 125)

 

V – Diminuindo a lacuna de valores: trabalhando as mudanças e fechando a fronteira da falta de motivação

 

A fronteira da falta de motivação

 

44 – Políticos de todos os partidos fazem leis que eles não são obrigados a cumprir, ou que não os afetam, e adotam comportamentos que levariam quase todos nós à demissão, ao divórcio ou à prisão. (p. 129)

45 – Fé menos vulnerabilidade é igual a política, ou ainda pior, a fanatismo. O verdadeiro comprometimento espiritual não é construído sobre a submissão, mas é produto do amor, da aceitação e da vulnerabilidade. (p. 130)

46 – Não podemos dar àa pessoas o que não temos. Quem somos importa infinitamente mais do que o que sabemos ou queremos ser. (p. 130)

 

VI – Compromisso perturbador: ousadia para reumanizar a educação e o trabalho

 

47 – Líder é alguém que assume a responsabilidade de descobrir o potencial de pessoas e situações. (p. 135)

 

O desafio da liderança na sociedade da escassez

 

48 – [...] as ideias inovadoras geralmente parecem loucas, e o fracasso e o aprendizado fazem parte da revolução. (p. 136)

49 – Mudança gradual e evolução são importantes e precisamos delas, mas estamos ávidos por uma revolução verdadeira, e isso exige um tipo diferente de coragem e criatividade. (p. 136)

50 – Aprender e criar são atitudes que, por natureza, nos coloca em posição vulnerável. Nunca há certeza suficiente. As pessoas querem garantias. (p. 136)

51 – [...] não se pode aprender de cabeça baixa e boca fechada. (p. 137)

52 – Nenhuma empresa ou escola pode ter sucesso sem criatividade, inovação e aprendizado permanente, e a maior ameaça a esses três elementos é a falta de motivação. (p. 137)

53 – [...] os líderes precisam se comprometer a reumanizar a educação e o trabalho. (p. 137)

 

Sinais de que a vergonha impregnou a cultura

 

54 – Culpa, fofocas, favoritismo, apelidos pejorativos e assédio são comportamentos indicadores de que a vergonha impregnou a cultura de um lugar. (p. 139)

 

O jogo da culpa

 

55 – Eis a melhor maneira de pensar sobre a relação entre vergonha e culpa: se a culpa estiver no volante, a vergonha estará no banco do carona. (p. 143)

 

A cultura de esconder a verdade

 

56 – Quando uma instituição deixa transparecer que é mais importante proteger a reputação de um sistema e dos que detêm o poder do que proteger a dignidade humana de indivíduos ou comunidades, temos certeza de que a vergonha nesse lugar é sistêmica, que o dinheiro governa a ética e que ninguém assume responsabilidades. (p. 144)

 

Diminuir a lacuna de valores com feedback de qualidade

 

57 – [...] enxergar o desempenho focando nos pontos fortes de uma pessoa nos dá a oportunidade de examinar nossas tarefas à luz de nossas capacidades, talentos, competências, possibilidades, visões, valores e esperanças. (p. 147)

58 – [...] o tamanho, a gravidades ou a complexidade de um problema nem sempre determinam nossa reação emocional a ele. (p. 152)

 

A coragem para estar vulnerável

 

59 – É difícil encontrar liderança porque poucas pessoas estão dispostas a enfrentar o desconforto exigido para ser um líder. (p. 156)

 

VII – Criando filhos plenos: ousando ser o adulto que você quer que seus filhos sejam

 

Criar filhos na cultura da escassez

 

60 – Quando nos agarramos obsessivamente às nossas escolhas sobre educação e vemos alguém praticando outras formas, geralmente percebemos essa diferença como uma afronta ao modo como educamos nossos filhos. (p. 160)

61 – Quem somos e a maneira como nos relacionamos com o mundo são indicadores muito mais seguros de como nossos filhos serão do que tudo o que sabemos sobre criar filhos. (p. 160)

62 – Você é o adulto que deseja que seus filhos se tornem um dia? (p. 161)

63 – [citando Joseph Chilton Pearce] “O que somos ensina mais uma criança  do que o que dizemos, portanto precisamos ser o que queremos que nossos filhos se tornem.” (p. 161)

 

Compreendendo e combatendo a vergonha

 

64 – Se uma criança conta uma mentira, ela pode mudar esse comportamento. Se ela é uma mentirosa, onde está o potencial para mudar nisso? (p. 167)

65 – [...] as experiências de vergonha na infância afetam nossa autoestima e mudam quem somos e a maneira como nos enxergamos. (p. 168)

 

Diminuir a lacuna de valores: apoiar nossos filhos significa apoiar os pais

 

66 – Ninguém pode afirmar que cuida do bem-estar de crianças se estiver envergonhando outros pais pelas escolhas que estão fazendo. (p. 171)

 

A coragem para estar vulnerável

 

67 – Se estivermos sempre seguindo nossos filhos na arena da vida, calando as críticas e assegurando sua vitória, eles nunca aprenderão por conta própria que têm a capacidade de viver com ousadia. (p. 180)

Em um mundo onde a escassez e a vergonha dominam e sentir medo tornou-se um hábito, a vulnerabilidade é subversiva. Incomoda. Até um pouco perigosa, às vezes.

 

Arun Gandhi

 

Leitura de A Virtude da Raiva

 

Editora GMT Editores Ltda.

Título Original The Gitf of Anger

Tradução Débora Chaves

 

As lições de meu avô

 

01 – [...] a verdadeira força vem do cultivo dos valores corretos na busca da transformação social. (p. 13)

02 – [...] os problemas surgem quando achamos que essa é a única verdade absoluta. (p. 13)

03 – Seja a mudança que você deseja ver no mundo. (p. 14)

 

Use a raiva para o bem

 

04 – A raiva é uma energia que nos impele a definir o que é justo e o que não é. (p. 18)

05 – Você só consegue encontrar a solução quando entende a origem. (p. 20)

06 – Quando reagimos de maneira impensada e descontrolada, é como se tivéssemos disparado um tiro – não há como voltar atrás e colocar as balas de volta na arma. (p 21)

07 – Ninguém quer ser maltratado. Todo mudo prefere ser compreendido e valorizado. (p. 27)

08 – Use a raiva com sabedoria. Permita que ela o ajude a encontrar soluções com amor e verdade. (p. 27)

 

Não tenha medo de expressar a sua opinião

 

09 – Não é seguindo a manada que você vai criar mudanças e melhorar o mundo. (p. 35)

10 – um homem de poucas palavras raramente será descuidado em seu discurso, pois medirá cada uma delas. (p. 42)

 

Aprecie a solidão

11 – [...] receber amor e aclamação alimenta o seu ego. (p. 45)

12 – Ficar em silêncio é algo que todos nós precisamos aprender [...] (p. 47)

13 – [...] os pais devem considerar dar aos filhos o presente da solidão de vez em quando. (p. 47)

14 – Dormir um terço da vida acrescenta um terço ao tempo de vida. (p. 47)

15 – A educação precisar ser mais do que adquirir conhecimentos por meio de livros didáticos e se preparar pra uma profissão e para ganhar dinheiro. (p. 53)

 

Conheça o seu valor

 

16 – O materialismo e a moralidade são inversamente proporcionais. Quando um aumenta, o outro diminui. (p. 61)

 

Mentiras levam a mais mentiras

 

17 – Mentiras são como areia – incapazes de criar alicerces sólidos. (p. 75)

18 – A ciência não tem todas as respostas, mas, na busca da verdade absoluta, temos que nos basear nos melhores fatos de que dispomos. (p. 76)

19 – Se você alega que o aquecimento global não é verdade, que os imigrantes aumentam a criminalidade ou que a discriminação não existe, está ignorando fatos intencionalmente e deixando que mentiras emocionais levem a melhor. (p. 76)

20 – Decidir abandonar a mentira e seguir a verdade pode mudar a sua vida – e, talvez, o seu país. (p. 78)

 

O desperdício é uma violência

 

21 – Desperdiçar qualquer coisa é mai do que um mau hábito. Demonstra descuido com o mundo e é uma violência contra a natureza. (p. 80)

22 – Quando consumimos os recursos do mundo em excesso, nós os tornamos ainda mais escassos para os outros. (p. 81)

23 – A violência passiva é o combustível que alimenta a violência física no mundo. (p. 82)

24 – Nossa ganância e nossos hábitos, que causam tanto desperdício, perpetuam a pobreza, o que é uma violência contra toda a humanidade. (p. 82)

25 – [...] o todo é formado de pequenas partes individuais chamadas de átomos, que se aglutinam para formar tudo ao nosso redor. (p. 84)

26 – [...] o que possuímos não nos define, quer sejam coisas grandes ou pequenas. (p. 87)

27 – A violência passiva do desperdício pode ser tão destrutiva quanto a violência física. (p 93)

28 – O desperdício pior e mais violento é desperdiçar parte de seu dia. (p. 94)

 

Eduque seus filhos sem violência

 

29 – Um adulto que bate numa criança estabelece um ciclo desnecessário de violência. (p. 97)

30 – A gratidão surge quando você pode ver o lugar que ocupa no mundo. (p. 102)

 

 Humildade e força

 

31 – Quem tem ideias de verdade, soluções e integridade não precisa bater tambor para ser ouvido. (p. 113)

32 – Quando oprimimos as pessoas e lhes negamos seus direitos, seja mulheres, minorias ou imigrantes, estamos escolhendo não enxergar o valor delas. (p. 118)

33 – A verdadeira riqueza não vem do dinheiro ou da dominação, mas do reconhecimento de que todas as pessas são dignas.(p. 119)

34 – Os Oito Pecados Sociais: riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, comércio sem moral, ciência sem humanidade, conhecimento sem caráter, devoção sem sacrifício, política sem princípios e direitos sem responsabilidades (p. 119)

35 – Quando nos fechamos em grupos rígidos, estamos dizendo que nossa forma de enxergar o mundo é melho do que todas as outras e que preferimos nos isolar a conhecer ou ouvir outros modos de pensar. (p. 124)

36 – [...] ninguém alcança o sucesso sozinho. Precisamos da humildade para reconhecer e valorizar as contribuições dos outros para a nossa prosperidade. (p. 125)

37 – Como indivíduos, nós florescemos e nos desenvolvemos quando estamos conectados, quando somos parte do fluxo de uma comunidade maior. (p. 126)

38 – Deixe a brisa co conhecimento entrar por todas as janelas abertas. (p. 126)

 

Os cinco pilares da não violência

(respeito, compreensão, aceitação, apreciação, compaixão).

 

39 – [...] se aprendemos a viver de forma simples, podemos ajudar os outros a simplesmente viver. (p. 129)

40 – Cada um de nós pode oferecer a pitada de alegria e esperança capaz de levar as pessoas a querem ser melhores. Um exemplo vivido de amor, esperança ou verdade pode fazer todo o resto parecer sombrio em comparação. (p. 130)

41 – Conduza o mundo através do amor, não do medo. (p. 133)

42 – O respeito e a compreensão pelas outras pessoas, qualquer que seja sua religião, etnia, casta ou nação, é a única forma de o mundo poder seguir em frente. (p. 133)

43 – As pessoas mais felizes não são aquelas que têm mais dinheiro, mas as que conseguem apreciar a beleza e a bondade ao seu redor. (p. 134)

44 – Reserve alguns minutos do seu dia para apreciar um bonito pôr do sol, um botão de flor ou a risada de uma criança. Olhe para sua vida como se estivesse de fora e pense em todas as pessoas que ficariam felizes em estar no seu lugar. (p. 134)

45 – Cometemos uma violência com nós mesmos quando concentramos a atenção no que está faltando em vez de apreciar as dádivas que recebemos. (p. 134)

46 – [...] apreciar o que temos leva à compaixão por que precisa de nossa ajuda. A compaixão é bem mais do que assinar um cheque para uma instituição de caridade, (p. 135)

 

Você será testado

 

47 – [...] você prova o próprio valor pelo seu coração e pelas suas ações. (p. 144)

48 – [...] a vingança nunca é a solução. O desejo de vingança acaba com uma pessoa, destrói a sua paz de espírito e a deixa sempre no limite. (p. 149)

49 – o perdão é mais viril do que o castigo. (p. 149)

50 – [...] fácil amar quem nos ama, mas a verdadeira força da não violência surge quando conseguimos amar quem nos odeia. [...] mesmo essa coisa dificílima se torna fácil de realizar quando queremos fazê-lo. (p. 150)

 

Lições para hoje

 

51 – Você precisa conhece seus pontos fracos, [...] para poder transformá-los em pontos fortes. Seus objetivo diário é ser melhor do que foi no dia anterior. (p. 154)

52 – [...] muitos de nós passamos todo o tempo tentando proteger a nossa pequena parte do mundo e acabamos esquecendo que estamos todos interconectados e não podemos florescer sozinhos. (p.156)

53 – A humildade cura as feridas; a arrogância as agrava. (p. 157)

54 – [...] ninguém nos oprime mais do que nós mesmos. (p. 158)

55 – No fundo, somos todos forasteiros para alguém! (p. 162)

56 – [...] uma sociedade não pode ser avaliada por um critério material, mas apenas pela profundidade de seu amor e respeito por todos. (p. 164)

 

A maior alegria

A alegria reside na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido, não na vitória propriamente dita.

 

CAPA LIVRO

Bertrand Russel

Leitura de Por que os Homens Vão à Guerra

 

Editora: Unesp, São Paulo. 2014

Título Original: Why Men Fight

Tradução: Renato Prelorentzou

I

O Princípio do Crescimento

01 - [...] sem acordo e compreensão é impossível encontrar a cura para o mal que assola o mundo (p. 4)

02 - [...] a guerra nasce, em grande medida, da própria natureza humana. (p. 4)

03 - Só a paixão pode controlar a paixão, e só um impulso ou desejo contrário pode reprimir o impulso. (p. 5)

04 - Toda atividade humana jorra de duas fontes: impulso e desejo. (p. 6)

05 - Todo desejo pressupõe um intervalo de tempo entre a consciência da necessidade e a oportunidade de satisfazê-la. (p. 6)

06 - Não é um propósito, mas apenas um impulso o que induz ações tais como beber, comer, fazer amor, brigar e ostentar. (p. 7)

07 - Se o impulso é fraco, a previsão pode dominar: é o que se chama agir conforme a razão. Se o impulso é forte, ou a previsão será falseada e as consequências desagradáveis, esquecidas, ou as consequências serão, nos homens de compleição heroica, impetuosamente aceitas. (p. 7)

08 - O único pensamento genuíno é o que brota do impulso intelectual da curiosidade, levando ao desejo de saber e de compreender. (p. 8)

09 - [...] o que nos move é o impulso direto, e os desejos que julgamos ter não são mais que uma mera roupagem para o impulso. (p. 9)

10 - O impulso cego é a fonte da guerra, mas também é a fonte da ciência, da arte e do amor. (p. 10)11

11 - A disciplina excessiva, especialmente imposta de fora, resulta, com frequência, em impulsos de crueldade e destruição: essa é uma das razoes pelas quais o militarismo tem efeitos negativos sobre o caráter nacional. (p. 11)

12 - A guerra tem surgido, em grande parte, da vida do impulso, e não da razão do desejo. Há um impulso de agressão e um impulso de resistência à agressão. (p. 11)

13 - O impulso é a expressão da vida e, enquanto existir, haverá também esperança [...] a falta de impulso é morte, e da morte não virá nenhuma vida nova. (p. 13)

14 - [...] não há nada mais destrutivo ao gostar instintivo do que propósitos e necessidades não satisfeitas, e nada que facilite tanto a cooperação por propósitos comuns quanto o gostar instintivo. (p. 27)

15 - [...] é falso o lugar-comum que diz que não se pode mudar a natureza humana. Todos sabemos que nossa própria personalidade e das pessoas que conhecemos são muito afetadas pelas circunstâncias. (p. 29)16 - Por causa, sobretudo, do industrialismo, muitas necessidades que antes eram satisfeitas sem esforço agora ficam insatisfeitas na maioria dos homens e das mulheres. (p. 30)

16 - Os homens não precisam apenas de mais bens materiais, precisam, sim, de mais liberdade, mais autonomia, mais canais para criatividade, mais oportunidades para sentir a alegria de viver, mais cooperação voluntária e menos subserviência involuntária a propósitos que não os seus. (p. 31)

II

O Estado

17 - A essência dos Estados é a de ser o repositório da força coletiva de seus cidadãos. (p.34)

18 - Em um Estado civilizado, a força só é empregada contra seus próprios cidadãos conforme regras previamente estabelecidas, as quais constituem o código penal. (p. 34)

19 - Não podem pairar duvidas de que a força empregada conforme a lei é menos perniciosa do que a força empregada por capricho.. (p.34)

20 - É principalmente o sentimento tribal o que gera a unidade de um Estado nacional, mas não é apenas ele o que gera a sua força. (p.41)

21 - Sua força [a do Estado nacional] resulta, sobretudo, de dois temores, nenhum deles desarrazoado: o temor do crime e da anarquia dentro; e o temor da agressão de fora. (p. 41)

22 - A vida civilizada se tornaria quase impossível se aventureiros pudessem formar exércitos particulares com o propósito de saquear. (p. 41)

23 - O elemento religioso do patriotismo é reforçado pela educação, especialmente pelo conhecimento da história e da literatura do país, desde que não seja acompanhado pelo grande conhecimento da história e da literatura de outros países. (p. 43)

24 - O patriotismo é insatisfatório enquanto religião porque lhe falta universalidade. O bem que busca é um bem para apenas uma nação, e não para toda a humanidade. (p. 44)

25b - Um mundo cheio de patriotas pode ser um mundo cheio de conflitos. (p.44)

26 - Quando os homens tiverem aprendido a subordinar o seu próprio bem ao bem de um todo maior, não haverá nenhuma razão válida para se deter a raça humana. (p. 44)

27 - O cosmopolitismo não pode deixar de crescer à medida que os homens adquirem mais conhecimento sobre os países estrangeiros por meio da educação e da viagem. (p. 45)

28 - É da essência do Estado suprimir a violência interna e facilitá-la externamente. (p. 46)

29 - Em um país grande, a força popular é como uma das forças da natureza e parece, tanto quanto estas, fora do controle de qualquer homem. (p. 47)

30 - A principal fonte de prejuízos causados pelo Estado é o fato de que o poder é seu objetivo mais importante. (p. 48)

31 - Os homens que se habituaram à autoridade são particularmente inaptos para a negociação amistosa, mas as relações oficiais entre os Estados estão, sobretudo, nas mão de homens que têm bastante autoridade em seus próprios países. (p.49)

32 - Em uma democracia, a opinião pública e a necessidade de conciliar partidos políticos corrigem, parcialmente, influências plutocráticas, mas a correção sempre é apenas parcial. (p. 50)

33 - O poder excessivo do Estado [...] é uma das causas principais da miséria do mundo moderno e uma das principais razões do desânimo que impede os homens de crescerem até sua plena estatura mental. (p. 51)

34 - A lei é estática demais, está muito ao lado do que está ruindo e muito pouco ao lado do que está crescendo. (p. 51)

35 - Enquanto a lei for teoricamente suprema, ela terá de ser ajustada de tempos em tempos por revolução interna e por regras externas. (p. 51)

36 - É pura hipocrisia falar de uma disputa entre força e direito e, ao mesmo tempo, ter esperança na vitória do direito. Se a disputa for, de fato, entre força e direito, isso significa que o direito será vencido. (p. 52)

37 - [...] há maneiras pelas quais o Estado, ao insistir na manutenção da lei, se não faz mais nada além disso, torna possível várias formas de injustiça que, de outra maneira, seriam prevenidas pela raiva das vítimas. (p. 53)

38 - [...] quando a interferência com a liberdade é grande e o bem, pequeno e questionável, fica melhor suportar certa quantidade de doenças preveníeis do que sofrer uma tirania científica. (p. 53)

39 - A existência de massas ignorantes na população é um perigo para a comunidade. (p. 53)

40 - A democracia em sua forma moderna seria impossível em uma nação onde os homens não saibam ler. (p. 54)

41 - [...] é necessária uma opinião pública forte em favor da liberdade em si. (p. 57)

42 - As instituições não podem preservar a liberdade, a menos que os homens entendam que a liberdade é preciosa e estejam dispostos a se empenhar para mantê-la viva. (p. 57)

43 - Tanto nos assuntos internos quanto nos externos, o pior inimigo da liberdade é a guerra. (p. 59)

III

A Guerra Como Instituição

44 - O objetivo [da guerra] é, geralmente, poder ou riqueza. (p. 61)

45 - [...] a guerra, assim como todas as outras atividades naturais, não é movida pelo fim que tem em vista quanto por um impulso à atividade em si. (p. 61)

46 - O que torna a guerra tão difícil de suprimir é o fato de que nasce de um impulso, e não de um cálculo das vantagens que virão da guerra. (p. 62)

47 - Quando se abre fogo contra os grevistas, o Estado está se colocando ao lado dos ricos. Quando opiniões contrárias ao Estado são punidas, o Estado é, obviamente, uma das partes da disputa. (p. 62)

48 - [...] o uso de uma força semelhante nas questões internacionais é a melhor esperança para a paz duradoura. (p. 62)

49 - [...] o único mal verdadeiro da derrota é a humilhação, e a humilhação é subjetiva; não devemos nos sentir humilhados se nos convencermos de que foi um erro nos engajar na guerra e de que é melhor nos dedicarmos que não dependem da dominação mundial. (p. 68)

50 - [...] não se ganha o respeito do mundo com uma politica imperialista. (p. 68)

51 - Em um mundo onde as nações crescem e declinam, onde as forças se alteram e as populações são oprimidas, não é possível nem desejável manter o status quo (p. 69)

52 - Jamais ocorre aos capitalistas que, ao se oporem às mudanças sem ponderar se são justas ou não, compartilham da responsabilidade pela guerra de classes. (p. 69)

53 - [...] a menos que nossos padrões de civilização e nossos poderes de pensamento construtivo sejam permanentemente rebaixados, não posso duvidar de que, cedo ou tarde, a razão irá subjugar os impulsos cegos que hoje levam as nações à guerra. (p. 70)

54 - É muito raro a febre da guerra dominar uma nação se esta não acreditar que será vitoriosa. (p. 72)

55 - [...] sob a influência do entusiasmo, os homens exageram na estimativa de seu êxito; mas há alguma proporção entre o que se espera e o que um homem nacional esperaria. (p. 72)

56 - Uma nação que passou por uma experiência recente de guerra – e veio a saber que a guerra é quase sempre mais dolorosa do que se esperava em seu início – fica muito menos suscetível à febre da guerra, até que uma nova geração cresça. (p. 73)

57 - As forças políticas e econômicas que conduzem à guerra poderiam ser facilmente contidas se a vontade de paz fosse forte em todas as nações civilizadas. (p. 74)

58 - [...] enquanto as populações forem suscetíveis à febre da guerra, todo trabalho em prol da paz será precário. (p. 74)

59 - Sem imaginação e amor à aventura, uma sociedade logo fica estagnada começa a declinar (p. 74)

60 - O conflito, desde que não seja destrutivo nem brutal, é necessário para estimular as criatividades dos homens e para assegurar a vitória do que está vido sobre aquilo que é morto ou simplesmente tradicional. (p. 74)

61 - O mal é apenas o que resulta em morte, destruição e ódio. (p. 74)

62 - [...] até onde se puder prevenir, algo precisa ser feito para fortalecer uma saída pacífica a alguns dos impulsos que levam à guerra. (p. 75)

63 - [...] o pacifismo exprime com bastante frequência apena a falta de força, não a recusa de usar a força contra os outros. (p. 76)

64 - Todo homem vigoroso precisa de algum tipo de competição, de alguma sensação de resistência vencida, para sentir que está exercitando suas aptidões. (p. 77)

65 - O objetivo do pacifista deveria ser o de dar ao homem cada vez mais controle político sobre suas próprias vidas e, em especial, introduzir a democracia no gerenciamento da indústria, como aconselham os sindicalistas. (p. 78)

66 - Para o pacifista, dado a reflexões, o problema é duplo: como manter seu próprio país em paz e como preservar a paz do mundo. (p. 78)

67 - O motivo primordial de que resulta a guerra é o fato de uma grande proporção da humanidade tem um impulso ao conflito, e não à harmonia, e só pode ser levada a cooperar com os outros quando resiste ou ataca um inimigo comum. (p. 86)

68 - Quando se sentem fortes o bastante, muitos homens se esforçam para serem temidos ao invés de amados. (p. 86)

69 - Se quiserem salvar o mundo, os homens precisam aprender a ser nobres sem ser cruéis, a estarem cheios de fé e, ainda assim, abertos à verdade, a se inspirarem em propósitos grandiosos sem odiar aqueles que tentam impedi-lo. (p. 88)

IV

A Propriedade

70 - O homem que venera o dinheiro deixou de ter a esperança de ser feliz por seus próprios esforços ou em suas próprias atitudes: ele encara a felicidade como uma satisfação passiva de prazeres que derivam do mundo exterior. (p. 90)

71 - O industrialismo tornou o trabalho mais enfadonho e intenso, menos capaz de proporcionar interesse e prazer ao homem, que o realiza só pelo dinheiro. (p. 95)

72 - Por causa do medo de perder dinheiro, a precaução e a ansiedade constroem o poder de felicidade dos homens, e o temor da desgraça se torna uma desgraça ainda maior do que a que se temia. (p. 95)

73 - A crença na importância da produção tem uma irracionalidade e uma brutalidade fanáticas. (p. 97)

74 - [...] o poder de emprestar dinheiro dá tanta influência a capitalistas privados que não é compatível com uma liberdade real para o resto da população, a menos que seja estritamente controlado. (p. 101)

75 - tem qualquer justificativa, a não ser historicamente, pelo poder da espada. (p. 101)

76 - Não há justificativa para a propriedade privada da terra, a não ser a necessidade histórica de apaziguar ladrões turbulentos que, de outra forma, não teriam obedecido à lei. (p. 101)

77 - O trabalho ordinário é feito pela necessidade de viver e o trabalho mais excepcional é feito pelo interesse no trabalho em si. (p. 103)

78 - O movimento trabalhista é, em essência, um movimento em favor da justiça, baseado na crença de que o sacrifício de muitos por alguns poucos não é necessário hoje, independentemente de qual tenha o caso passado. (p. 105)

79 - Devido à oposição das classes instruídas, o proletariado, quando é revolucionário e vigoroso, tende a desprezar tudo o que as classes instruídas representam. (p. 106)

80 - O modo de superar a posição do proletariado não é optar pela hostilidade ou pelos sermões morais, mas sim dar ao proletariado o interesse direto nos processos econômicos que atualmente pertencem aos empregadores. (p. 108)

81 - O propósito mais importante que as instituições políticas podem alcançar é manter vivos nos indivíduos a criatividade, o vigor, a vitalidade e a alegria de viver. (p. 108)

82 - O que é necessário para manter os homens cheios de vitalidade é oportunidade, e não apenas segurança. (p. 108)

83 - A segurança é tão somente um refúgio contra o medo, a esperança é a fonte da esperança. (p.108)

84 - Na maioria dos homens há, até que seja atrofiado pela falta de uso, um instinto construtivo, uma vontade de fazer alguma coisa. (p. 109)

85 - O principal defeito do sistema capitalista vigente é que o trabalho feito em troca de salários muito raramente proporciona algum canal de manifestação para o impulso criativo. (p. 109)

86 - Os empregadores ficam indignados com as normas sindicais que limitam a produção, mas não têm direito de se indignar, pois não permitem aos homens que empregam qualquer participação no propósito pelo qual se faz o trabalho. (p 110)

87 - Muito do que se pode dizer contra o militarismo no Estado também se pode dizer contrao capitalismo na esfera econômica. (p. 111)

V

A Educação

88 - Nenhuma teoria política é adequada, a menos que seja aplicável às crianças tanto quanto aos homens e às mulheres. (p. 115)

89 - Alguns deles [os teóricos] têm escrito livros sobre educação, mas, via de regra, sem ter qualquer criança de verdade na mente enquanto escrevem. (p.115)

90 - Se as próprias crianças fossem consultadas, a educação não teria por objetivo pertencer a este ou àquele lado, mas sim habilitá-las a optar inteligentemente entre os lados; teria por objetivo fazê-las capazes de pensar, e não fazê-las pensar o que seus professores pensam. (p. 116)

91 - A educação não poderia existir enquanto arma política se respeitássemos os direitos das crianças. (p. 116)

92 - A justiça, no sentido literal de direitos iguais, não é, está claro, inteiramente possível em relação às crianças. (p. 117)

93 - Quanto à liberdade, ela é, antes de tudo, essencialmente negativa: condena toda interferência evitável na liberdade, sem oferecer nenhum princípio positivo de construção. (p. 117)

94 - [...] as crianças estão, necessariamente, mais ou menos à mercê dos mais velhos e não conseguem ser guardiãs de seus próprios interesses. (p. 117)

95 - A autoridade na educação é, até certo ponto, inevitável, e os que educam precisam encontrar um meio de exercer a autoridade de acordo com o espírito da liberdade. (p. 117)

96 - As “boas maneiras” são bem compatíveis com uma mentalidade aberta superficial, uma prontidão para ouvir todos os lados e certa cortesia para com os opositores. Mas não é compatível com a mentalidade aberta fundamental, nem com a prontidão interior para sopesar os outros lados. (p. 123)

97 - A educação deve nutrir o desejo de verdade, não a convicção de que um credo em particular é a verdade. Mas são os credos que mantém os homens unidos em organizações para luta: Igrejas, Estados, partidos políticos. (p. 124)

98 - Aqueles cujas mentes não são muito ativas apresentam como resultado a onipotência do preconceito; já aqueles cujo pensamento não pode ser de todo assassinado se tornam cínicos, intelectualmente desesperançados, destrutivamente críticos, capazes de fazer que tudo pareça tolo, incapazes de suprir os impulsos criativos que destroem os outros. (p. 124)

99 - O êxito na luta, quando alcançado pela supressão da liberdade de pensamento, é breve e sem valor. (p. 124)

100 - A educação pela credulidade, leva em passos rápidos, à decadência mental; é somente mantendo vivo o espírito de livre indagação que se pode alcançar o mínimo de progresso indispensável. (p. 125)

101 - O que faz a obediência parecer necessária nas escolas são as classes grandes e os professores sobrecarregados, demandas de uma falsa economia. (p. 126)

102 - O pensamento é subversivo e revolucionário, destrutível e terrível; o pensamento é implacável com o privilégio, com as instituições estabelecidas e com os hábitos confortáveis; o pensamento é anárquico e sem lei, indiferente à autoridade, negligente para com a sabedoria comprovada dos tempos. O pensamento olha para o fundo do inferno e não sente medo. (p. 133)

103 - Tudo o que fez grande o homem surgiu da tentativa de assegurar o que é bom, não da luta para se evitar o que se julga ruim. (p. 135)

VI

O Casamento e a Questão Populacional

104 - As mulheres estão ganhando liberdade – não apenas liberdade externa e formal, mas liberdade interna, que lhes permite pensar e sentir de modo autêntico, e não de acordo com as máximas expostas. (p. 143)

105 - Cada vez mais mulheres consideram maternidade insatisfatória, algo que não corresponde às exigências de suas necessidades. (p. 144)

106 - Não é difícil descobrir uma solução teórica, mas será bastante difícil persuadir os homens a adotar uma solução prática, porque os efeitos a temer não são imediatos e o tema é daquele nos quais as pessoas não têm o hábito de usar a razão. (p. 149)

107 - Se quisermos cessar a esterilização das melhores parcelas da população, a primeira e mais premente necessidade é remover os motivos econômicos da limitação das proles. (p. 151)

108 - O indivíduo não é o fim e o objetivo de seu próprio ser: para além do indivíduo há a comunidade, o futuro da humanidade, a imensidão do universo, no qual todos os nossos medos e esperanças não passam de um mero grão de areia. (p. 156)

109 - Do mesmo modo como a religião dominava a velha formado casamento, ela deve dominar a nova. Mas há de ser uma nova religião, baseada na liberdade, na justiça e no amor, e não na autoridade, na lei e no fogo do inferno. (p. 157)

110 - O amor confere valor intrínseco a um casamento e, assim como a arte e o pensamento, é uma das coisas supremas que tornam a vida humana digna de preservação. (p. 157)

111 - Ele [o amor] se torna, cedo ou tarde, retrospectivo, um túmulo de alegrias mortas, não uma fonte de vida nova. (p. 157)

112 - Uma necessidade não satisfeita produz, no fim, muito dor e muito mais distorção de caráter do que se estivesse associada a um desejo consciente. (p. 158)

113 - É a combinação de amor, filhos e vida comum o que constrói a melhor relação entre um homem e uma mulher. (p. 160)

VII

A Religião e as Igrejas

114 - Quase todas as transformações pelas quais o mundo passou desde o fim da Idade Média se devem à descoberta e difusão de novos conhecimentos. (p. 163)

115 - O declínio da religião dogmática é, para o bem ou para o mal, um dos fatos mais importantes do mundo moderno. (p. 164)

116 - A religio é, em parte, pessoal e, em parte social: para os protestantes, é primordialmente pessoal; para os católicos, primordialmente social. (p. 164)

117 - Toda e qualquer seleção média de humanos que se ponha à parte e se diga superior aos demais por virtude tenderá a cair abaixo da média. (p. 165)

118 - Tão logo a renda, a posição e o poder se tornem dependentes da aceitação de um credo qualquer que seja, a honestidade intelectual fica em perigo. (p. 166)

119 - [...] naqueles cuja vida mental tem algum vigor, a perda da completa integridade intelectual põe fim à capacidade de fazer o bem, gerando aos poucos e em todas as direções a inabilidade de enxergar a verdade. (p. 166)

120 - Os crentes da religião tradicional procuram inspiração necessariamente no passado, e não no futuro. (p. 168)

121 - A primeira e maior transformação que se requer é o estabelecimento de uma moralidade de iniciativa e não de uma moralidade de submissão, de esperança e não de medo, de coisas que se devem fazer e não de coisas que não de coisas que não podem ser feitas. (p. 168)

122 - O mundo é nosso mundo e depende de nós torná-lo um inferno ou um céu. (p. 168)

123 - Amará a humanidade, não pelo que ela é aos olhos exteriores, mas pelo que a imaginação mostra que ela tem por realizar dentro de si. (p. 169)

124 - As três fontes [das atividades dos homens] a que me refiro são o instinto, a mente e o espírito, e, dessas três, é a vida do espírito que gera a religião. [...] a vida do instinto inclui tudo o que o homem compartilha com os animais inferiores [...] a vida da mente é a vida da busca do conhecimento (p. 170)

125 - Nenhum homem adquire muito conhecimento a menos que a aquisição em si lhe seja um deleite, para além de qualquer consciência do uso que o conhecimento possa ter. (p. 171)

126 - A vida da mente consiste no pensamento, que é total ou parcialmente impessoal, no sentido de que se ocupa de objetos por serem objetos, e não apenas por terem influência sobre nossa vida instintiva. (p. 171)

127 - A vida do espírito gira em torno do sentimento impessoal, enquanto vida da mente gira em torno do pensamento impessoal. (p.171)

128 - A arte começa no instinto e se eleva dentro da região do espírito; a religião começa no espírito e se empenha para dominar e modelar a vida do instinto. (p. 171)

129 - Entre os homens e mulheres civilizados dos dias de hoje, é raro encontrar instinto, mente e espírito em harmonia. (p. 172)

130 - É o instinto que dá força, a mente que dá os meios de dirigir a força aos fins desejados e o espírito que sugere usos impessoais para a força, de um tipo que o pensamento não pode desacreditar pela crítica. (p. 173)

131 - De uma derrota nasce a inveja, e da inveja nasce o impulso de destruir a criatividade dos homens mais afortunados. Essa é uma das maiores fontes de corrupção da vida do instinto. (p. 175)

132 - O pensamento, em essência, é impessoal e destacado. O instinto, em essência, é pessoal e ligado a circunstâncias peculiares: entre os dois, a menos que ambos atinjam alto nível, há uma guerra que não se aplaca facilmente. (p. 177)

133 - O pensamento que não se eleva acima do pessoal não é pensamento em sentido verdadeiro: é apenas um uso mais ou menos inteligente do instinto. (p. 177)

134 - É o pensamento e o espírito que elevam o homem acima do nível das bestas. (p. 177)

135 - Nada de bom existe na vida do ser humano, a não ser o que de melhor sua natureza possa realizar. (p. 181)

136 - O homem que traz dentro de si a vida do espírito vê o amor entre homem e mulher, tanto em si mesmo quanto nos outros, de modo bem diferente do que o homem dominado exclusivamente pela mente. (p. 182)

137 - Os pais puramente instintivos sentem que nenhum benefício aos outros vale um dano sequer a seus próprios filhos. (p. 183)

138 - É apenas através do espírito que a felicidade e aa paz poderão retornar àqueles que um dia adentraram o mundo do pensamento. (p. 184)

VIII

O Que Podemos Fazer

139 - Nossas expectativas não devem ser para amanhã, mas sim para o tempo em que o pensamento que hoje é de poucos tenha se tornado o pensamento comum de muitos. (p. 185)

140 - Em longo prazo, o poder do pensamento é maior do que qualquer outro poder humano (p. 186)

141 - Quando se busca uma teoria política que seja útil a todo e qualquer momento, o que se quer não é a invenção de uma utopia, mas a descoberta da melhor direção de movimento. (p. 187)

142 - O pensamento útil é o que indica a direção correta do tempo presente. (p. 187)

143 - [...] é muito difícil que um homem entre no Parlamento sem hipocrisia. (p. 190)1

144 - A melhor vida é aquela na qual os impulsos criativos desempenham o maior papel e os impulsos possessivos, o menor. (p. 193)

145 - Posse significa tomar ou manter uma coisa boa da qual os outros ficam impedidos de desfrutar; criação significa colocar no mundo uma coisa boa da qual, de outro modo, ninguém poderia desfrutar. (p. 194)

146 - O Estado dos dias de hoje é, em larga medida, uma corporificação dos impulsos possessivos: internamente, ele protege o rico contra o pobre; externamente, usa sua força para explorar as raças inferiores e competir com outros Estados. (p. 194)

147 - O necessário é manter o pensamento em íntima união com impulsos e desejos, sempre fazendo dele mesmo uma atividade com propósito objetivo. (p. 199)

148 - A única força política poderosa de que se pode esperar alguma ajuda na realização das mudanças que parecem necessárias é o proletariado. (p. 200)

149 - [...] para promover a vida, é necessário promover alguma coisa para além da mera vida. (p. 202)

150 - Aqueles a quem cabe começar a regeneração do mundo devem encarar a solidão, a oposição, a pobreza e a infâmia. Dever ser capazes de viver pela verdade e pelo amor, com uma insuportável esperança racional; devem ser honestos e sábios, destemidos e guiados por um propósito. (p. 203)

 

CREPUSCULO

Friedrich Wilhelm Nietzsche

Leitura de: Crepúsculo dos Ídolos ou Como se Filosofa com o Martelo

 

Editora: Vozes Ltd, Petrópolis, Rj: 2014

Título Original em Alemão: Götzen-Dämmerung oder Wie man mit dem Hammer philosophirt.

Tradução: Jorge Luiz Viesenteiner

 

O verme pisado se contorce. Eis aí algo inteligente. Assim é que ele diminui a possibilidade de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: humildade.

 

A “razão” na filosofia

01 – A razão é a causa de que falseamos o testemunho dos sentidos. (p. 26)

02 – [...] o ser é uma ficção vazia. O mundo “aparente” é o único que existe: o “mundo verdadeiro” é apenas mentirosamente acrescentado... (p. 26)

 

Moral como contranatureza

03 – Todas as paixões possuem uma época em que são meramente nefastas, em que puxam para baixo suas vítimas com o peso da estupidez – e numa época mais tarde, bem mais tarde, quando se casam com o espírito, “espiritualizam-se”. [...] é preciso matar as paixões. (p. 33)

04 – A espiritualização da sensualidade se chama amor: ela é o grande triunfo sobre o cristianismo. (p. 35)

05 – Quase todo partido compreende que seu interesse de auto conservação consiste em que o partido adversário não perca as forças; o mesmo vale para a grande política. (p. 35)

06 – Só se fecundo ao apreço de ser rico em antagonismo; só se permanece jovem sob o pressuposto de que a alma não se distenda, não deseje a paz... (p. 35)

07 – Em muitos casos, naturalmente, a “paz da alma” é mero mal-entendido. (p. 35)

08 - Todo naturalismo na moral, isto é, toda moral saudável é dominada por um instinto de vida. (p. 36)

09 – A moral contranatural, isto é, quase toda moral que até agora foi ensinada, venerada e pregada, dirige-se, ao contrário, precisamente contra os instintos de vida, - ela é por vezes secreta, por vezes ruidosa e insolente, condenação desses instintos. (p. 36)

10 – Quando falamos de valores, falamos sob a inspiração, sob a ótica da vida. (p. 37)

 

Os quatro grandes erros

 

Erro da confusão entre causa e consequência

11 – Todo erro em qualquer sentido é a consequência da degeneração do instinto, da degradação da vontade: com isso, já quase se define o ruim. Tudo o que é bom é instinto – e, por consequência, leve, necessário, livre. (p. 41)

Erro de uma falsa causalidade

12 – O ser humano projetou para fora de si seus três “fatos internos”, aqueles em que acreditou mais firmemente, a vontade, o espírito, o Eu. (p. 42)

Erro das causas imaginárias

13 – [...] queremos possuir uma razão para nos sentir dessa e daquela forma, - de nos sentirmos bem ou nos sentirmos mal. (p. 43)

14 – [...] qualquer explicação é melhor do que nenhuma. (p. 44)

Erro da vontade livre

15 – Os seres humanos foram pensados “livres” para poderem ser julgados, punidos, - para poderem se tornar culpados. (p. 46/47)

16 – Ninguém é responsável pelo fato de existir, por se constituir dessa ou daquela forma, por estar sob essas circunstâncias, nesse ambiente. A fatalidade do seu ser não pode ser desvinculada da fatalidade de tudo aquilo que foi e que será. (p. 47)

16 – [...] mas nada existe fora do todo. (p. 48)

 

Os “melhoradores” da humanidade

17 – O juízo moral tem em comum com o juízo religioso o fato de acreditar em realidades que não o são. Moral é apenas uma interpretação de certos fenômenos, falando de forma mais específica, uma interpretação equivocada. (p. 49)

18 – Denominar de “melhoramento” a domesticação de um animal é, aos nossos ouvidos, quase uma piada. (a besta) Ela é enfraquecida, tornada menos prejudicial, e por meio do afeto depressivo do medo, por meio da dor, por meio das feridas, por meio da fome, converte-se em besta da fome. (p. 50)

19 – [...] no combate com a besta, o tornar-doente pode ser o único meio de enfraquecê-la. Isso a Igreja entendeu: ela arruinou o ser humano, enfraquecendo-o, - reivindicou, porém, tê-lo melhorado. (p. 50)

 

O que os alemães estão perdendo

20 – Paga-se caro por chegar ao poder: o poder embrutece... [...] a política devora toda sociedade para com as coisas efetivamente espirituais. (p. 55)

21 – Ninguém, em última instância, pode gastar mais do que possui – isso vale aos indivíduos, isso vale aos povos. (p. 58)

22 – Todas as grandes épocas da cultura são épocas de declínio político: o que é grande no sentido da cultura foi apolítico, inclusive antipolítico. (p. 58)

 

Incursões de um extemporâneo

23 – O cristianismo pressupõe que o ser humano não saiba, não possa saber, o que é o bem e o que é o mal para ele: ele acredita em Deus, que é o único que sabe. (p. 66)

24 – Para que exista arte, para que exista qualquer agir e contemplar estéticos, é indispensável uma precondição fisiológica: a embriaguez. A embriaguez, primeiramente, tem de haver intensificado a excitabilidade de toda a máquina: antes disso não se chega a qualquer arte. (p. 68)

24 – O essencial na embriaguez é o sentimento de intensificação de força e abundância. (p. 68)

25 – A embriaguez apolínea mantém excitado sobretudo o olho, de modo a receber a força da visão. (p. 69)

26 – [...] a arquitetura é uma espécie de eloquência do poder em formas, por vezes persuadindo, inclusive lisonjeando, por vezes apenas ordenando. (p. 71)

27 – É preciso ter necessidade de espírito para obter espírito, - ele se perde quando não se tem mais necessidade dele. Quem possui força, despoja-se do espírito. (p. 73)

28 – A hipocrisia pertence às épocas de fé forte: naquelas em que não se abandonava a fé que se tinha, nem sob a coação para se aparentar outra fé. (p. 74)

29 – O ser humano inclusive acredita que o mundo está cheio de beleza, - esquece de si como a causa dela. (p. 75)

30 – O mundo é realmente embelecido pelo fato de que o ser humano o considera belo? O homem o humanizou: isso é tudo. (p. 76)

31 – Nada é belo, apenas o ser humano é belo: toda estética se assenta sobre essa ingenuidade, que é sua primeira verdade. [...] a sua segunda: nada é feio a não ser o ser humano degenerado (p. 76)

32 – O feio é entendido como um sinal e sintoma da degenerescência: o que faz lembrar degenerescência, mesmo que de mais longínquo, é o que produz em nós o juízo “feio”. (p. 76)

33 – L’art pour l’art. – O combate contra a finalidade na arte é sempre o combate contra a tendência moralizante na arte, contra sua subordinação à moral. L’art pour l’art significa: “o diabo que leve a moral!” (p. 79)

34 – “É preferível nenhuma finalidade a uma finalidade moral!” – assim fala a mera paixão. (p. 79)

35 – A arte é o grande estímulo à vida: Como poderíamos entendê-la como algo sem finalidade, como algo sem meta, como l’art pour l’art? (p. 80)

36 – Reconhecem-se os corações que são capazes de uma nobre hospitalidade nas muitas janelas cobertas com cortinas e nas persianas fechadas: eles mantêm seus melhores lugares vazios. (p. 80)

37 – Nossas mais autênticas vivências não são de modo algum dadas à conversação. Elas não poderiam comunicar a si mesmas se quisessem. A questão é que faltam palavras a elas. (p. 81)

38 – O filósofo enxerga o homem apenas em seu agir, vê esse animal muito valente, astuto, resistente, inclusive perdido em necessidades labirínticas, quão digno de admiração lhe parece o homem! (p 83)

39 – Se um filósofo pudesse ser niilista, assim o seria porque encontra por trás de todos os ideais de homem o nada,. Ou ainda não encontra nem mesmo o nada, - mas somente aquilo que nada vale, o absurdo, o doentio, o covarde, o cansado, toda espécie de borras das taças completamente bebidas da sua vida. (p. 83)

40 – Cada indivíduo pode ser considerado, a partir da perspectiva se representa a linha ascendente ou descendente da vida. (p. 84)

41 – Já a queixa, o queixar-se, pode fornecer um estímulo à vida, com cujo encanto se consegue suportá-la: uma dose sutil de vingança se encontra em toda queixa. (p. 85)

42 – O queixar-se não vale nada em qualquer situação: ele deriva da fraqueza. (p. 85)

43 – Uma moral “altruísta”, uma moral na qual o egoísmo definha -, permanece um indício ruim sob quaisquer circunstância. Isso vale ao indivíduo, isso vale notadamente aos povos. (p. 86)

44 – Ao se tornar altruísta, o ser humano está no fim. – ao invés de dizer ingenuamente “eu não valho nada”, a mentira mora na boca do decadente diz: “nada tem valor, - a vida não tem valor algum”... (p. 86)

45 – O doente é um parasita da sociedade. (p. 86)

46 – Em certa condição é indecente viver ainda por mais tempo. O continuar vegetando em infame dependência de médicos e métodos, depois que o sentido da vida, o direito à vida se perdeu, deveria atrair sobre si um profundo desprezo na sociedade. (p. 86/87)

47 – Morrer de uma maneira orgulhosa, quando não mais é possível viver orgulhosamente, (p. 87)

48 – Não se deveria esquecer que o cristianismo abusou da fraqueza do moribundo para violentar sua consciência, bem como abusou da própria maneira de morrer para fazer juízo de valor sobre o homem e seu passado! (p. 87)

49 – Não temos em mãos impedir que se tenha nascido: mas podemos corrigir novamente esse erro – pois é, por vezes, um erro. Quando alguém se suprime, faz a coisa mais digna de respeito que existe: quase merece viver por conta disso... (p. 88)

50 – [...] em si, nenhuma moral possui valor: - causar-nos-ia inclusive desprezo. (p. 89)

51 – As épocas fortes, as culturas nobres, veem na compaixão, no “amor ao próximo”, na ausência de um si mesmo e de um sentimento de si mesmo algo de desprezível. (p. 91)

52 – [...] o abismo entre homem e homem, classe e classe, a multiplicidade de tipos, a vontade de ser si mesmo, de distinguir-se, isso que denomino de pathos da distância, é próprio de toda época forte. (p. 91)

53 – O valor de uma coisa, por vezes, reside não naquilo que se alcança com ela, mas sim naquilo que se paga por ela, - naquilo que custa a nós. (p. 92)

54 – [...] a guerra educa para a liberdade. (p. 92)

55 – Liberdade significa possuir os instintos viris que se comprazem na guerra e na vitória, acima de outros instintos, por exemplo, acima dos instintos de “felicidade”. (p. 92)

56 – [...] no sentido que eu entendo liberdade: como algo que se tem e não se tem, que se quer, que se conquista. (p. 93)

57 – Depois que foram perdidos todos os instintos a partir dos quais nascem as instituições, vão se perdendo as instituições em geral porque nós não valemos mais nada para elas. (p. 93)

58 – Tão longe vai a décadence nos instintos de valor dos nossos políticos, dos nossos partidos políticos: eles instintivamente preferem aquilo que dissolve, que acelera o fim... (p. 94)

59 – Se a tensão na massa se tornou demasiado grande, basta o mais casual estímulo para fazer vir ao mundo o “gênio”, a “ação”, o grande destino. (p. 98)

60 – Os grandes seres humanos são necessários, a época em que eles aparecem é casual. (p. 98)

61 – O tipo criminoso é o tipo de ser humano forte colocado nas mais desfavoráveis condições, um ser humano forte tornado doente. (p. 99)

62 – Quase todo gênio conhece, como um de seus desenvolvimentos, a “existência catilinária”, um sentimento de ódio, vingança e rebelião contra tudo o que já existe, que não mais se torna... (p. 101)

63 – [...] é indigno dos grandes corações propagar a perturbação que eles sentem. (p. 102)

64 – [a beleza de uma raça] ela é o resultado final do trabalho acumulado de gerações. (p. 102)

65 – As coisas boas são de sobremaneira custosas: e vale sempre a lei que quem as tem é distinto de que as conquistou. (p. 102)

66 – [...] o cristianismo, que desprezou o corpo foi, até agora, a desgraça da humanidade.(p. 103)

 

 em busca de sentido

Viktor E. Frankl

Leitura do Livro: Em Busca de Sentido

(um psicólogo no campo de concentraão)

 

Editora Vozes 42ªed. 2017

Título Original: ...trotzdem Já zum Lebem sagen.

Tradução: Walter O. Schlupp Verlag

 

I

EM BUSCA DE SENTIDO

 

A primeira fase: recepção no campo de concentração

01 – Nós sabemos dizer até que ponto é verdade que a pessoa a tudo se acostuma, sem dúvida! Mas ninguém pergunte de que modo. (p. 32)

02 – Citando Gotthold Ephraim Lessing, “Quem não perde a cabeça com certas coisas é porque não tem cabeça para perder’. (P. 34)

 

A segunda fase: a vida no campo de concentração

03 – Quem não passou por isso dificilmente poderá imaginar o desgaste interior causado pelos conflitos da força de vontade que desenrolam na pessoa do faminto. (p. 47)

04 – [...] a verdade de que o amor é, de certa forma, o bem último e supremo que pode ser alcançado pela existência humana. (p. 55)

05 – Ele [o amor] está ligado a tal ponto à existência espiritual da pessoa amada, a seu “ser assim” que sua “presença” e seu “estar-aqui-comigo” podem ser reais em sua existência física em si e independentemente de estar com vida. (p. 56)

06 – [...] o humor constitui uma arma da alma na luta por sua autopreservação. (p. 62)

07 – Assim como determinada quantidade de gás preenche um espaço oco sempre de modo uniforme e integral, não importando as dimensões desse espaço, o sofrimento, seja grande ou pequeno, ocupa toda a alma da pessoa humana, o consciente humano. (p. 63)

08 – Sentíamo-nos feito ovelhas num rebanho, que somente sabem, pensam e querem uma coisa: escapar aos ataques dos cães e, num momento de paz, poder comer um pouco. (p. 70)

09 – Quem não vivenciou pessoalmente a situação reinante num campo de concentração não faz a menor ideia da radical insignificância que se reduz  o valor da vida do indivíduo ali internado. (p. 72)

10 – A liberdade espiritual do ser humano, a qual não se pode tirar, permite-lhe, até o último suspiro, configurar sua vida de modo que tenha sentido. Pois não somente uma vida ativa tem sentido, em dando à pessoa a oportunidade de concretizar valores de forma criativa. Não há sentido apenas no gozo da vida, que permite à pessoa realizar valores na experiência do que é belo, na experiência da arte ou da natureza. (p. 89)

11 – Se é que a vida tem sentido, também o sofrimento necessariamente o terá. Afinal de contas, o sofrimento faz parte da vida, de alguma forma, do mesmo modo que o destino e a morte. (p. 90)

12 – Dependendo da atitude que tomar, a pessoa realiza ou não os valores que lhe são oferecidos pela situação sofrida e pelo seu pesado destino. (p. 91)

13 – [...] a pessoa interiormente pode ser mais forte do que seu destino exterior. (p. 91)

14 – Numa situação idêntica [à do prisioneiro do campo de concentração] encontra-se, por exemplo, o desempregado; também sua existência se tornou provisória e também ele, de certo modo, não pode viver voltado para o futuro, em função de um alvo nesse futuro. (p. 94)

15 – Na medida em que essa pessoa puder lançar um olhar para fora, a vida ali será vista por ela como que por um falecido que olha do “além” para este mundo. Em relação ao mundo normal, o recluso, com o tempo, se sentirá como se tivesse “desaparecido para este mundo.” (p. 95)

16 – Citando Bismarck, “A vida é como estar no dentista: a gente pensa que o principal ainda vem, quando na realidade já passou.” (p. 96)

17 – [...] a rigor nunca e jamais importa o que nós ainda temos a esperar da vida, mas sim exclusivamente o que a vida espera de nó. (p. 101)

18 – [...] viver não significa outra coisa se não arcar com as responsabilidades de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento. (p. 102)

19 – Quando um homem descobre que seu destino lhe reservou um sofrimento, tem que ver nesse sofrimento também uma tarefa sua, única e original. (p. 102)

20 – O efeito direto do ser exemplo sempre é maior do que o efeito de palavras. (p. 105)

21 – Disse que ele [sacrifício] tem sentido em qualquer caso. (p. 108)

22 – A bondade humana pode ser encontrada em todas as pessoas e ela se acha também naquele grupo que, à primeira vista, deveria ser sumariamente condenado. (p. 111)

23 – [...] existem sobre a terra duas raças humanas e realmente apenas essas duas: a “raça” das pessoas direitas e a das pessoas torpes. [mas] não há grupo constituído exclusivamente de pessoas decentes, nem unicamente de pessoas torpes. (p. 112)

24 – [o ser humano] É o ser que sempre decide o que ele é. (p. 112)

 

A terceira fase: após a libertação

25 – [...] ninguém tem o direito de praticar injustça, nem mesmo quem sofreu injustiça. (p. 117)

26 – Ai daquele que experimenta na realidade aquele momento que sonhou mil vezes, e o momento vem diferente, completamente do que fora imaginado. (p. 118)

 

II

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA LOGOTERAPIA

 

27 – A logoterapia concentra-se mais no futuro, ou seja, nos sentido a serem realizados pelos pacientes em seu futuro. (p. 123)

28 – A logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por esse sentido.(p. 124)

29 - [...] a busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora do ser humano. (p. 124)

29 – A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida. (p. 124)

30 – Nem todo conflito é neurótico; certa dose de conflito é normal e sadia. (p. 127)

31 – [...] o sofrimento não é sempre um fenômeno patológico; em vez de sintoma de neurose, o sofrimento pode ser perfeitamente uma realização humana, especialmente se o sofrimento emana de frustração existencial. (p. 127)

32 – A frustração existencial em si mesma não é patológica nem patogênica. A preocupação ou mesmo o desespero da pessoa sobre se a vida vale a pena ser vivida é uma angústia existencial, mas de forma alguma uma doença mental. (p. 128)

33 – A logoterapia considera sua tarefa ajudar o paciente a encontrar sentido em sua vida. (p. 128)

34 – [..] a saúde mental está baseada em certo grau de tensão, tenção entre aquilo que já se alcançou e aquilo que ainda se deveria alcançar, ou o hiato entre o que se é o que se deveria ser. (p. 129)

35 – O que o ser humano realmente precisa não é de um estado livre de tensões, mas antes a busca e a luta por um objetivo que valha a pena, uma tarefa escolhida livremente. (p. 130)

36 – O vazio existencial manifesta-se principalmente num estado de tédio. (p. 131)

37 – [...] o sentido da vida difere de pessoa para pessoa, de um dia par outro, de uma hora para outra. (p. 133)

38 - O que importa, [...] não é o sentido da vida de um modo geral, mas antes o sentido específico da vida de uma pessoa em dado momento. (p. 133)

39 – Cada qual tem sua própria vocação ou missão específica na vida; cada um precisa executar uma tarefa concreta, que está a exigir realização. (p. 133)

40 – [...] a logoterapia vê na responsabilidade a essência propriamente dita da existência humana. (p. 134)

41 – A logoterapia procura criar no paciente uma consciência plena de sua própria responsabilidade; por isso precisa deixar que ele opte pelo que, perante que ou perante quem ele se julga responsável. (p. 134)

42 – [...] o verdadeiro sentido da vida deve ser descoberto no mundo, e não dentro da pessoa humana ou de sua psique, como se fosse um sistema fechado. (p. 135)

43 – Quanto mais a pessoa esquecer de si mesma – dedicando-se a servir uma causa ou a amar outra pessoa -, mais humana será e se realizará. (p. 135)

44 – [...] a autorrealização só é possível como efeito colateral da autotranscendência. (p. 135)

44 – De acordo com a logoterapia, podemos descobrir sentido na vida de três modos: A) criando um trabalho ou praticando um ato; B) experimentando algo ou encontrando alguém; C) pela atitude que tomamos em relação ao sofrimento inevitável.

45 – Amor é a única maneira de captar outro ser humano no íntimo da sua personalidade. (p. 136)

46 – Não devemos esquecer nunca que também podemos encontrar sentido na vida quando nos confrontamos com uma situação sem esperança, quando enfrentarmos uma fatalidade que não pode ser mudada. (p. 136)

47 – [...] o sofrimento não é de modo algum necessário para encontrar sentido. [...] o sentido é possível mesmo a despeito do sofrimento – desde que, naturalmente, o sofrimento seja inevitável. (p. 138)

48 – [...] o sentido da vida é um sentido incondicional, por incluir até o sentido potencial do sofrimento inevitável. (p. 138)

49 – [...] no passado nada está irremediavelmente perdido, mas está tudo irrevogavelmente guardado. (p. 144)

50 – Nada pode ser desfeito, nada pode ser eliminado; ter sido é a mais segura forma de ser (p. 144)

51 – Em vez de possibilidades, realidades é o que tenho em meu passado, não apenas a realidade do trabalho realizado e do amor vivido, mas também a realidade dos sofrimentos suportados com bravura. (p. 145)

52 – [...] “o desejo é o pai do pensamento” para “a angústia é a mãe do evento”. (p. 146)

53 – Ironicamente, da mesma forma como o medo faz acontecer aquilo de que se tem medo, uma intenção forçada torna impossível aquilo que se deseja muito. (p. 146)

54 – A logoterapia baseia sua técnica denominada “intenção paradoxal” no fato duplo de que o medo produz aquilo de que temos medo e de que a intenção excessiva impossibilita o que desejamos. (p. 147)

55 – Cada época tem sua própria neurose coletiva, e cada época necessita de sua própria psicoterapia para enfrenta-la. (p. 151)

56 – [...] o ser humano é um ser finito e sua liberdade é restrita. [...] liberdade de tomar uma posição frente aos condicionamentos. (p. 152)

57 – O ser humano não é completamente condicionado e determinado; ele mesmo determina se cede aos condicionantes ou se lhes resiste. (p. 153)

58 – A liberdade, no entanto, não é a última palavra. Não é mais que parte da história e metade da verdade. Liberdade é apenas o aspecto negativo do fenômeno integral cujo aspecto positivo é responsabilidade. (p. 154)

59 – [...] a liberdade está em perigo de degenerar, transformando-se em arbitrariedade, a menos que seja vivida em termos de responsabilidade. (p. 154)

60 – Um indivíduo incuravelmente psicótico pode perder sua utilidade, mas conserva a dignidade de ser humano. (p. 155)

61 – O ser humano não é uma coisa; coisas se determinam mutuamente, mas o ser humano, em última análise, se determina a si mesmo. (p. 155)

 LIEV TOLSTÓI

 

LIEV TOLSTÓI

Leitura de: Uma Confissão

 

Editora: Mundo Cristão                                                           Tradução e Apresentação: Rubens Figueiredo

 I

01 – [...] a inteligência, a honestidade, a retidão, a generosidade e a moral se encontram, na maior parte, em pessoas que se declaram sem fé. (p. 17)

II

02 – Ingênuo, imaginava que eu era poeta, artista, e podia ensinar todo mundo, sem que eu mesmo soubesse o que ensinava. (p. 25)

03 – Na época, estávamos convencidos de que tínhamos de falar sem parar, escrever, publicar – o mais depressa possível, e que tudo isso era necessário para o bem da humanidade. (p. 25)

04 – [...] aquilo não era nada diferente de um hospício; mas, na época, eu apenas desconfiava e, como qualquer louco, apenas chamava todos os outros de loucos, menos a mim mesmo. (p. 27)

III

05 – Nas esferas mais elevadas da atividade literária, ficou claro para mim que era impossível ensinar sem saber o que ensinar [...] (p. 30)

IV

06 – Minha vida parou. Eu podia respirar, comer, beber, dormir, porque não podia ficar sem respirar, sem comer, sem beber, sem dormir; mas não existia vida, porque não existiam desejos cuja satisfação eu considerasse razoável. (p. 35)

07 – Se uma bruxa aparecesse e oferecesse satisfazer meus desejos, eu não saberia o que pedir. (p. 35)

08 – A verdade era que a vida não tem sentido algum. (p. 35)

09- É impossível parar, é impossível voltar, é impossível fechar os olhos e deixasse de ver que não existe nada à frente, a não ser a ilusão da vida, da felicidade, os sofrimentos verdadeiros e a morte verdadeira – aniquilação completa. (p. 36)

10 – A ideia do suicídio me veio de maneira tão natural quanto, antes, me vinham os pensamentos sobre o aperfeiçoamento da vida. (p. 36)

11 – Eu mesmo não sabia o que queria: tinha medo da vida, desejava  me livrar dela e, no entanto, ainda esperava dela alguma coisa. (p. 37)

12 – [...] temendo a morte, tive de usar de astúcia contra mim mesmo, a fim de não me privar da vida. 9p. 37)

13 – [...] minha vida é alguma brincadeira idiota e maldosa que não sei quem está fazendo isso comigo. (p. 37)

14 – Mais dia, menos dia, virão as doenças, a morte (já chegaram) para as pessoas queridas, para mim, e nada restará, senão o mau cheiro e os vermes. (p. 38)

15 –Só conseguimos viver enquanto estamos embriagados pela vida; mas. Quando ficamos sóbrios, é impossível não ver que tudo isso é apenas ilusão, e uma ilusão tola! (p. 38)

16 – Agora, não consigo deixar de ver os dias e as noites, que correm e me levam para a morte. É só isso que vejo, porque só isso é a verdade. Todo o resto é mentira. (p. 40)

17 – O pavor das trevas era grande demais e eu, quanto antes, livrar-me dele, com uma corda ou como uma bala. (p. 42)

V

17 – A pergunta: “O que vai ser daquilo que faço hoje, daquilo que vou fazee amanhã o que vai ser de toda a minha vida?”  [...] Existe, em minha vida, algum sentido que não seria aniquilado pela morte que me aguarda de modo inevitável? (p. 45)

18 – [...] dizer “no espaço e no tempo infinitos tudo se desenvolve, se aperfeiçoa, se torna mais complexo, se transforma” é o mesmo que não dizer nada. (p. 47)

19 – O mais importante é minha pergunta pessoal, “O que sou eu e o que são meus desejos?” (p. 47)

20 – [...] para responder à pergunta que se apresenta a todo ser humano: “O que sou?”, ou “Para que vivo?”, ou “O que devo fazer?”), é preciso, antes, que o homem solucione a pergunta: “O que é  vida de toda a humanidade, que ele desconhece, e da qual ele conhece apenas uma parte minúscula, num minúsculo período de tempo?” (p. 49)

21 – A fim de entender o que ele é, o homem precisa, antes, entender o que é toda essa misteriosa humanidade, formada por pessoas iguais a ele e que, também como ele, não entendem a si mesmas. (p. 49)

22 -  [...] é a metafísica, ou a filosofia especulativa [...] formula com clareza a questão: “O que sou eu e o que é o mundo? Para que existo e para que existe o mundo?” (p. 51)

VI

23 – [...] o saber especulativo respondeu e responde a mesma coisa: o mundo é algo infinito e incompreensível. A vida humana é parte inconcebível desse “todo” inconcebível. (p. 53)

24 – (citando Sócrates) “Só nos aproximamos da verdade na medida m que nos afastamos da vida”. (p. 56)

25 – (citando Sócrates) “Sábio, durante toda a vida, busca a morte e por isso a morte, para ele, não é terrível.” (p. 56)

26 – O fato de termos tanto pavor do nada ou, o que é o mesmo, de desejarmos tanto viver, significa apenas que nós mesmos não somos outra coisa que não essa vontade de vida, e que não conhecemos nada senão isso. (p. 57)

27 – [...] para aqueles em quem a vontade foi transformada e suprimida, este nosso mundo tão real, com todos os seus sóis e suas vias lácteas, é nada. (p. 57)

28 – [...] vaidade das vaidades, tudo é vaidade! Que proveito tira o homem de todo trabalho com que se fadiga debaixo do sol? (p. 58)

29 – [...] quem multiplica o conhecimento multiplica o desgosto. (p. 58)

VII

30 – “[...] não há nada melhor para o homem, debaixo do sol, do que comer e beber e divertir-se [...] Portanto, vá e come seu pão com alegria e beba seu vinho na alegria do coração...” (p. 65)

31 – “Tudo o que sua mão pode fazer com esforço, faça, porque, no túmulo para onde você irá, não há nem trabalho nem pensamento nem conhecimento nem sabedoria.’ (p. 65)

32 – [...] O acidente que hoje faz de mim um Salomão amanhã pode fazer de mim um escravo de Salomão. (p. 66)

33 – Não consigo desviar os olhos dos ratos e do dragão, como nenhum homem vivo consegue, depois que os vê pela primeira vez. (p. 66)

34 – [...] se sei o que é melhor e isso está a meu alcance, por que não me render ao que é melhor? (p. 67)

35 – [...] a razão é filha da vida. Avida é tudo. A razão é o futuro da vida e essa razão nega a própria vida. (p. 69)

36 – A vida é cruelmente absurda, isso é indubitável. [...] Para que a humanidade vive, quando pode não viver? (p. 69)

VIII

37 – [...] Não sou a humanidade toda, e eu ainda não conheço a vida da humanidade. (p. 73)

38 – “Que sentido dão e deram à sua vida os milhões que viveram e vivem no mundo?” (p. 74)

39 – [...] se quero entender o sentido da vida, preciso buscar sentido não naqueles que o perderam e querem se matar, mas sim nos milhões de pessoas que viveram no passado e vivem hoje, que fazem a vida e carregam  sobre si a sua e a nossa vida. (p. 74)

40 – Eu sabia que nada encontraria no caminho do saber racional, senão a negação da vida,  e que nada encontraria na fé, senão a negação da razão. (p. 75)

IX

41 – Quaisquer que sejam as respostas da fé, oferecidas a quem quer que seja, toda resposta da fé dá um sentido infinito à existência finita do homem. (p. 79)

42 – [...] é preciso definir a fé e depois defir Deus, e não definir a fé por meio de Deus. (p. 80)

43 – [...] a fé é o sentido da vida humana, graças ao qual o homem não se destrói, e vive. A fé é a força da vida. Se o homem vive, ele acredita em alguma coisa. [...] Sem fé, é impossível vver.  (p. 80)

44 – É necessária e preciosa a solução da contradição entre o finito e o infinito, bem como uma resposta à questão da vida que torne a vida possível. (p. 82)

45 – [...] todos os nossos raciocínios giram num círculo mágico, como uma roda de engrenagem cujos dentes não se encaixam. (p. 83)

X

46 – [...] quanto mais observava, mais me convencia deque elas (as pessoas crentes trabalhadoras) possuem a fé verdadeira, que sua fé é necessária para elas e lhes dá o sentido e a possibilidade da vida. (p. 87)

47 – Em oposição ao fato de que, quanto mais somos inteligentes, menos compreendemos o sentido da vida e vemos uma espécie de brincadeira cruel no fato de que sofremos e morremos, aquelas pessoas vivem, sofrem e se aproximam da morte com tranquilidade e, em geral, com alegria. (p. 88)

XI

49 – [...] perguntei a mim mesmo o que é minha vida e recebi a resposta: crueldade e absurdo. [...] a resposta ”a vida é crueldade e absurdo” só dizia respeito à minha vida, e não à vida das pessoas em geral. (p. 91)

50 – [...] quem quer que faça coisas ruins detesta a luz e não marcha em direção da luz, para que suas ações não sejam denunciadas. [...] para compreender o sentido da vida é preciso, antes de tudo, que a vida não seja absurdo e crueldade, e só depois virá a razão para compreendê-la. (p. 91)

51 – A vida do mundo acontece pela vontade de alguém – por meio dessa vida de todo mundo e por meio de nossa vida, alguém realiza sua tarefa, seja ela qual for. (p. 93)

XII

52 – A consciência do erro do saber racional me ajudou a livrar-me da tentação da filosofice ociosa. (p. 95)

53 – [...] a vida autêntica do trabalhador simples do povo [...] é a vida autêntica. (p. 95)

54 – Conhecer Deus e viver é a mesma coisa. Deus é vida. (p. 100)

55 – [...] voltei a fé em Deus, no aprimoramento moral, na tradição que transmite o sentido da vida. (p. 100)

XIII

56 – [...] as condições de fartura em que vivemos nos privam da possibilidade de compreender a vida e que, para compreendê-la, devo fazê-lo sem exceção, não a nossa vida de parasitas, mas a do povo trabalhador simples, aquele que faz a vida, e o sentido que ele dá a ela. (p. 103)

57 – Deus criou o homem de tal modo que todo homem pode perder sua alma ou salvá-la. A missão do homem na vida é salvar sua alma. (p. 103)

58 – [...] assim como toda a humanidade e sua razão, o saber da fé emana de um princípio misterioso. Esse princípio é Deus, o princípio do corpo humano e de sua razão. (p. 105)

59 – Tudo aquilo em que as pessoas acreditam verdadeiramente deve ser verdade (p. 105)

60 – [...] a essência de qualquer fé consiste em que ela dá à vida um sentido que a morte não destrói (p. 105)

61 – A fim de alcançar a verdade, é preciso não se dividir; mas, para não se dividir, é preciso amar e resignar-se àquilo com que não estamos de acordo. (p. 106)

62 – [...] ao transgredir o amor, desperdiçamos a possibilidade de conhecer a verdade. (p. 107)

63 – [...] o amor não pode, de maneira nenhuma, tornar determinada expressão da verdade obrigatória para a união. (p. 107)

XIV

64 – [...] a morte não destrói a vida. (P. 113)

XV

65 – [...] a verdade estava (está) amarrada à mentira com linhas finíssimas. (p. 114)

66 – [...] a afirmação de você está na mentira e eu na verdade são as palavras mais cruéis que uma pessoa pode dizer a outra. (p. 116)

67 – E eu, que supunha que a verdade estava na unidade do amor, não pude deixar de ficar chocado ao ver que a própria doutrina destrói aquilo que ela deveria promover. (p. 116)

68 – [...] se duas doutrinas negam uma à outra, nem numa nem na outra se encontra se encontra a verdade única que deve ser a fé. (p. 117)

 XVI

69 – Todo o povo tem o conhecimento da verdade; disso não há dúvida, porque, do contrário, o povo não vive.* (p. 121)

 Quero entender de tal forma que qualquer tese inexplicável se apresente para mim como uma necessidade da razão, e não como uma obrigação.

Todo o povo tinha o conhecimento da verdade; disso não havia dúvida, porque, do contrário, o povo não viveria.

park

leitura doFilme: Hector e a Busca da Felicidade

Diretor: Peter Chelson

Com: Simon Pigg e Rosamund Pike

 

                Hector é o personagem vivido por Simon Pegg, um psiquiatra teórico que, cansado do seu conformismo na profissão e na vida particular e íntima, um dia explode e resolve mudar. Vai verificar na prática o que as pessoas acham o que é a felicidade. Viaja para China, onde vive momentos de euforia e insatisfação, depois para a África, interrogando os mais diversos tipos de pessoas sobre aquilo que provoca nelas a felicidade. Nelas e, consequentemente, no ser humano. Seu objetivo é mudar sua forma de trabalhar e assim poder realmente ajudar seus pacientes. Assim é que o acaso faz ele conhecer um banqueiro, reafirmando sua visão capitalista da vida, e uma senhora africana, que fazia como ninguém ensopados de batatas. Aliás, na África, ele chega a experimentar momentos em um cárcere fétido, vigiado por pessoas violentas da milícia. Hector viaja e em um diário anota as concepções de felicidade.

01 - Todos querem a felicidade [...] querem segurar a felicidade [...] ela é esquiva [...] não se pode tocar a felicidade.

02 – Fazer comparações pode atrasar sua felicidade.

03 – Muitas pessoas acham que felicidade é ser rico ou ser mais importante.

04 – Muitas pessoas só vêem a felicidade em seu futuro.

05 – A felicidade pode ser a liberdade de amar mais de uma mulher ao mesmo tempo.

06 – Às vezes, a felicidade é não estar sabendo de toda a história.

07 – Evitar a infelicidade não é o caminho para a felicidade.

08 – Se a minha família está infeliz como eu posso estar feliz?

09 – Por que iríamos prolongar a tristeza de outras pessoas?!

10 – Felicidade é responder ao seu chamado.

12 – Quanto mais rica a cidade, mais psiquiatra por metro quadrado.

11 – A mente pode se ferir tanto quanto o corpo.

13 – Se eu pareço feliz é porque sei que sou amado pelo que eu sou.

14 – O medo é impedimento para a felicidade.

15 – Felicidade é ser amado pelo que você é.

16 – Todo o que você faz nessa vida pode custar sua felicidade na próxima.

17 – Felicidade é sentir-se plenamente livre.

18 – Felicidade é saber como comemorar.

19 – Escutar é amar.

20 – Todos nós temos a obrigação de sermos felizes!

JUSTIÇA 

MICHAEL J. SANDEL

 

Leitura de: Justiça: Fazendo a coisa certa

Editora: Civilização Brasileira, 2015, 19ª edição                                                                    Título Original: Justice                                                                                                       Tradução: Heloísa Matias e Maria Alice Máximo

 

[citando Charlie Crist] (...) a ganância é um defeito moral, especialmente quando torna as pessoas indiferentes ao sofrimento alheio. (p. 15/16)

[citando Immanuel Kant e John Rowts] (...) uma sociedade justa respeita a liberdade de cada indivíduo para escolher a própria concepção do que seja uma vida boa. (p. 17)

Para saber se uma sociedade é justa, basta perguntar como ela distribui as coisas que valoriza — renda e riqueza, deveres e direitos, poderes e oportunidades, cargos e honrarias (p. 28)

Grande parte dos debates políticos contemporâneos é sobre como promover a prosperidade, melhorar nosso padrão de vida, ou impulsionar o crescimento econômico. Por que nos importamos com essas coisas? (p.28)

A vida em sociedades democráticas é cheia de divergências entre o certo e o errado, entre justiça e injustiça. (p.36)

Essa mudança no nosso modo de pensar, indo e vindo do mundo da ação para o mundo da razão é no que consiste a reflexão moral. (p. 38)

(...) a reflexão moral não é uma busca  individual, e sim coletiva. Ela requer um interlocutor – um amigo, um vizinho, um camarada, um compatriota. (p. 38)

[citando Platão] (...) para captar o sentido de justiça e da natureza de uma vida boa, precisamos nos posicionar acima dos preconceitos e das rotinas do dia a dia. (p. 38)

O princípio da máxima felicidade / O utilitarismo

Todo argumento moral, diz ele ( Jeremy Bentham), deve implicitamente inspirar-se na ideia de maximizar a felicidade. (p.48)

[citando Mill] Desde que eu não esteja prejudicando o próximo, minha “independência é, por direito, absoluta. No que diz respeito a si mesmo, ao próprio corpo e à própria mente, o indivíduo é soberano. (p. 64)

[citando Mill] (...) seguir convenções pode levar uma pessoa a um caminho na vida satisfatório, que a manterá longe de perigos. “Entretanto, qual será seu valor comparativo como ser humano?” (p.66)

[citando Bentham] (...) prazer é prazer e dor é dor. A única base para se considerar uma experiência melhor ou pior do que outra são a intensidade e a duração do prazer ou da dor que ela ocasiona. (p.67)

[citando Mill] Por felicidade compreende-se o prazer e a ausência  do sofrimento; por infelicidade, a dor e a privação do prazer. (p.69)

[citando Mill] “É melhor ser um humano insatisfeito do que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. E, se o tolo ou o porco tiveram uma opinião diferente, é porque eles só conhecem o próprio lado da questão. (p.71)

Os prazeres mais elevados não são maiores porque os preferimos; nós os preferimos porque reconhecemos que sã os mais elevados. (p. 71)

[Benthan] Qual seria a utilidade de um homem morto para os vivos?

Prestadores de serviço / O mercado e conceitos morais

[citando Rousseau] Somos inclinados a considerar o Estado, com suas leis e regras rigorosas, a expressão da força e a considerar o mercado, com suas trocas voluntárias, a expressão da liberdade. (p. 112)

[citando Wilenz] gravidez de aluguel configura comércio de crianças, (...) e o comércio de crianças é ilegal, por mais que seja voluntário. “Qualquer que tenha sido o idealismo que motivou os participantes, o objetivo do lucro impõe-se, permeia e, finalmente, comanda a transação.” (p.120)

[Elizabeth Anderson] O comércio da gravidez degrada a criança pois a trata como mercadoria. (...) A gravidez de aluguel também degrada a mulher, (...) porque trata seu corpo como se fosse uma fábrica e porque paga a ela para que não crie laços afetivos com a criança que gerou. (p.122)

Considerando que os seres humanos são livres, não deveríamos ser usados como se fôssemos meros objetos; ao contrário, deveríamos ser tratados com dignidade e respeito. (p. 124)

O que importa é o motivo / Immanuel Kant

Se você acredita em direitos humanos universais, provavelmente não é um utilitarista. Se todos os seres humanos são merecedores de respeito, não importa quem sejam ou onde vivam, então é errado tratá-los como meros instrumentos da felicidade coletiva. (p.135)

Só porque uma coisa proporciona prazer a muitas pessoas, isso não significa que possa ser considerada correta. O simples fato de a maioria, por maior que seja, concordar com uma determinada lei, ainda que com convicção, não faz com que ela seja uma lei justa. (p. 138)

(...) fazer um homem feliz é muito diferente de fazer dele um homem bom. Torná-lo astuto não é torná-lo virtuoso. (p. 139)

Fundamentar a moralidade em interesses e preferências destrói sua dignidade. Isso não nos ensina a distinguir o certo do errado, mas “apenas a sermos mais espertos. (p.139)

Nossa capacidade de raciocinar está intimamente ligada a nossa capacidade de sermos livres. (p. 140)

(...) condicionado, ele não é verdadeiramente livre. Para agir livremente, de acordo com Kant, deve-se agir com autonomia. E agir com autonomia é agir de acordo com a lei que imponho a mim mesmo — e não de acordo com os ditames da natureza ou das convenções sociais. (p. 141)

(...) se não existe autonomia, não pode haver responsabilidade moral. (p. 141)

Agir livremente não é escolher as melhores formas para atingir determinado fim; é escolher o fim em si — uma escolha que os seres humanos podem fazer e bolas de bilhar (e a maioria dos animais) não podem. (p. 141)

Nós somos os instrumentos, e não os autores, dos objetivos que tentamos alcançar. (p. 142)

(...) o respeito à dignidade humana exige que tratemos as pessoas como como fins em si mesmas. (p. 143)

(...) a pessoa não tem mais direito de dispor da humanidade em si mesmo do que em outra pessoa. Para ele, suicídio e homicídio são errados pelo mesmo motivo. Ambos tratam as pessoas como coisas e não respeitam a humanidade como um fim em si. (p. 155)

(...) o autorrespeito e o respeito ao próximo partem de um mesmo e único princípio. O dever do respeito é um dever que temos para com as pessoas como seres racionais, que têm humanidade, sejam elas quem forem. (p. 155)

Amor, empatia, solidariedade e companheirismo são sentimentos morais que nos aproximam mais de determinadas pessoas do que de outras. (p. 155)

(...) a justiça obriga-nos a preservar os direitos humanos de todos, independentemente de onde vivam ou do grau de conhecimento que temos deles, simplesmente porque são seres humanos, seres racionais e, portanto, merecedores de respeito. (p.156)

(...) não podemos deixar de compreender a nós mesmos de ambos os pontos de vista — o do domínio empírico da física e da biologia e o do domínio “inteligente” da faculdade humana de agir livremente. (p. 159)

A ciência pode investigar a natureza e indagar sobre o mundo empírico, mas não pode responder a questões morais ou negar o livre-arbítrio, porque a moralidade e a liberdade não são conceitos empíricos. Não podemos provar que elas existem, mas também não podemos explicar nossa vida moral sem partir do pressuposto de que elas existem. (p. 161)

(...) O dever de dizer a verdade deve prevalecer, independentemente das consequências. (p. 165)

[Kant, sobre o que é correto] “A veracidade das afirmações que não podem ser evitadas é um dever formal do homem para com todos os demais, embora isso possa prejudicá-lo ou prejudicar outra pessoas.” (p. 165)

[para Kant] uma Constituição justa tem como objetivo harmonizar a liberdade de cada indivíduo com a liberdade de todos os demais. (p. 171)

(...) os princípios de justiça não podem se fundamentar nos interesses ou desejos de uma comunidade. O simples fato de um grupo de pessoas ter elaborado uma Constituição no passado não basta para que essa Constituição seja considerada justa. (p. 172)

A questão da equidade / John Rawls

[para Kant] Uma lei é justa quando tem a aquiescência da população como um todo. (p.177)

(...) a maneira pela qual podemos entender a justiça é perguntando a nós mesmos com quais princípios concordaríamos em uma situação inicial de equidade. (p. 177)

O fato de uma Constituição ter sido ratificada pelo povo não significa que suas cláusulas sejam justas. (p. 180)

(...) o consentimento não é condição suficiente para a obrigação moral; um acordo em condições desiguais pode estar tão longe de oferecer benefícios mútuos que nem mesmo seu caráter voluntário pode sustentá-lo. (p. 183)

[Rawls] O “véu de ignorância” garante a equanimidade do poder e do conhecimento que a posição original requer. Ao fazer com que as pessoas ignorem sua posição na sociedade, suas forças e fraquezas, seus valores e objetivos, o véu de ignorância garante que ninguém possa obter vantagens, ainda que involuntariamente, valendo-se de uma posição favorável de barganha. (p. 188)

Segundo a concepção meritocrática, a distribuição de renda e fortuna que resulta do livre mercado é justa, mas só se todos tiverem as mesmas oportunidades para desenvolver suas aptidões. (p. 192)

Quatro teorias diferentes de justiça distributiva: 1 – Sistema feudal ou de castas: hierarquia fixa estabelecida em função do nascimento; 2 – Libertária: livre mercado com igualdade de oportunidades forml. 3 -  Meritocrática: livre mercado com oportunidades iguais justas; 4 – Igualitária: princípio da diferença de Rawls. (p. 195)

Em uma sociedade capitalista, ter capacidade empreendedora é uma vantagem. Em uma sociedade burocrática, é de grande valia ter a habilidade de se relacionar bem com os superiores. Em uma sociedade democrática de massa, é uma vantagem aparecer bem na televisão ou, em suma, ser superficial. Em uma sociedade com muitos problemas legais, é interessante frequentar a faculdade de direito e ter a capacidade de discernimento e raciocínio que permitirá um bom desempenho nos exames de admissão às faculdades de Direito. (p. 201)

Assim, ao mesmo tempo em que merecemos os benefícios que as regras do jogo prometem para o exercício de nosso talento, é errado e prepotente supor que merecemos, antes de tudo, uma sociedade que valorize nossas maiores qualidades. (p. 202)

[Rawls] “A distribuição natural não é justa nem injusta; tampouco é injusto que as pessoas nasçam em uma determinada posição na sociedade. Esses fatos são simplesmente naturais. O que é justo ou injusto é a maneira como as instituições lidam com esses fatos.’ (p. 204)

A ação afirmativa em questão

[Michael Sharlot] “A lei em uma sociedade depende em grande parte da disposição da sociedade de aceitar seu julgamento”, (p. 209)

(...) questão moral: é injusto considerar raça e etnia fatores prioritários no mercado de trabalho e na admissão à universidade?

(...) razões oferecidas pelos defensores da ação afirmativa: correção de distorções em testes padronizados, compensação por erros do passado e promoção da diversidade. (p. 210)

O princípio da diversidade se justifica em nome do bem comum – o bem comum (...) da sociedade em geral. (p. 213)

(...) muitos partidários da ação afirmativa não são utilitaristas; são liberais partidários de Kant ou de Rawls, que acham que nem mesmo os objetivos mais desejáveis devem sobrepor-se aos direitos individuais. (p. 215)

A não aceitação do mérito moral como base da justiça distributiva é moralmente atraente, (...) porque abala a concepção presunçosa, muito aceita em sociedades meritocráticas de que o sucesso é a coroação da virtude, de que os ricos são ricos porque são mais merecedores do que os pobres. (p. 221)

[citando Rawls]  “ninguém merece ter maior capacidade natural ou ocupar um ponto de partida privilegiado na sociedade”. (p.221)

Tampouco é mérito nosso o fato de vivermos em uma sociedade que por acaso valorize nossas qualidades particulares. Isso é fruto da nossa sorte, e não da nossa virtude. (p.221)

(...) quanto mais considerarmos nossas conquistas frutos do mérito próprio, menos responsabilidade sentiremos em 90 relação aos que ficam para trás. (p.221)

As discussões sobre a justiça distributiva não tratam apenas de quem deve merecer o quê, mas também de que qualidades são merecedoras de honrarias e prêmios. (p. 221)

Tudo que a equidade pressupõe é que ninguém seja rejeitado por preconceito ou descaso e que os candidatos sejam julgados por critérios coerentes. (p. 224)

Quem merece o quê/ Aristóteles

Para Aristóteles, justiça significa dar às pessoas o que elas merecem, dando a cada um o que lhe é devido. (p. 234)

A justiça envolve dois fatores: “as coisas e as pessoas a quem elas são destinadas”. (p 234)

A justiça discrimina de acordo com o mérito, de acordo com a excelência relevante.(p. 234)

Aristóteles argumenta que, para determinar a justa distribuição de um bem, temos que procurar o télos, ou propósito, do bem que está sendo distribuído. (p. 235)

Para compreender a natureza e o lugar que ocupamos nela, é preciso entender seu propósito e seu significado essencial. (p. 236)

Para Aristóteles, a justiça distributiva não se referia essencialmente a dinheiro, mas a cargos e honrarias. (p. 239)

Aristóteles adverte que todas as teorias de justiça distributiva discriminam. A questão é: Quais discriminações são justas? E a resposta depende do propósito da atividade em questão. (p. 239)

Atribuir por antecipação qualquer propósito ou finalidade à comunidade política seria privar o cidadão do direito de decidir por si mesmo. Haveria também o risco de impor valores que nem todos compartilham. (p. 239)

Para ele (Aristóteles), o propósito da política (...) é cultivar o bom caráter. (p. 240)

Os oligarcas alegam que eles, os abastados, deveriam comandar. Os democratas argumentam que o nascimento livre deve ser o único critério da cidadania e da autoridade política. (p. 249)

Os oligarcas estão errados porque a comunidade política não envolve apenas proteção da propriedade ou promoção da prosperidade econômica. (...) os democratas estão errados porque a comunidade política não serve apenas para dar à maioria o direito de decidir. (p. 240)

[Aristóteles] O propósito da política é nada menos do que permitir que as pessoas desenvolvam suas capacidades e virtudes humanas peculiares — para deliberar sobre o bem comum, desenvolver um julgamento prático, participar da autodeterminação do grupo, cuidar do destino da comunidade como um todo. (p. 240)

Nos dias atuais, geralmente vemos a política como um mal necessário, e não como uma característica essencial da vida boa. Quando pensamos em política, pensamos em concessões mútuas, fingimento, interesses, corrupção. (p. 242)

(...) a linguagem, capacidade essencialmente humana, não registra apenas prazer e dor. Ela também expressa o que é justo ou injusto, distingue o certo do errado. (...) a linguagem é o meio pelo qual discernimos e deliberamos sobre o bem. (p. 243)

Não somos autossuficientes quando estamos isolados, porque não podemos desenvolver nossa capacidade de linguagem e de deliberação moral. (p. 243)

(...) só realizamos nossa natureza quando usamos nossa faculdade da linguagem, o que requer, por sua vez, que deliberemos com nossos semelhantes sobre o certo e o errado, o bem e o mal, a justiça e a injustiça. (p. 243)

O indivíduo virtuoso é aquele que sente prazer e dor com as coisas certas. (p. 244)

A excelência moral não consiste em agregar prazeres e sofrimentos, mas em alinhá-los para que possamos usufruir das coisas nobres e sofrer com as coisas reles. A felicidade não é um estado de espírito, mas uma maneira de ser, “uma atividade da alma em sintonia com a virtude”. (p. 244)

 “A virtude moral resulta do hábito.” É o tipo de coisa que aprendemos com a prática. (p. 244)

Ninguém aprende a tocar um instrumento lendo um livro ou assistindo a aulas. É preciso praticar. (p. 244)

A educação moral está menos relacionada com a promulgação de leis do que com a formação de hábitos e a construção do caráter. (p. 245)

A questão é fazer a coisa certa “para a pessoa certa, na dimensão certa, no momento certo, pelo motivo certo e da maneira certa”. (p. 246)

Os indivíduos com sabedoria prática são capazes de deliberar corretamente sobre o que é bom, não apenas para si mesmos, mas também para seus concidadãos e para os seres humanos em geral. (p. 246)

Só nos tornamos eficientes para deliberar quando entramos em campo, avaliando as alternativas, discutindo nosso argumento, governando e sendo governados — em suma, praticando a cidadania. (p. 247)

Se eu não for livre para escolher meu papel social por conta própria, poderei ser forçado a aceitar um papel contra minha vontade. (p. 248)

A escravidão é errada, (...) porque coage os indivíduos a desempenhar papéis que eles não escolheram. (p. 248)

Para a teoria política liberal, a escravidão é injusta porque é coercitiva. Para as teorias teleológicas, a escravidão é injusta porque contraria nossa natureza. (p. 250)  

Para que o trabalho seja justo, deve estar em conformidade com a natureza dos trabalhadores que o desempenham. (p. 251)

O que devemos uns aos outros? / Dilemas de lealdade

Para o individualista moral, ser livre é submeter-se apenas às obrigações assumidas voluntariamente. (p. 264)

A origem das únicas obrigações morais a que devemos obedecer é a livre escolha de cada indivíduo, e não o hábito, a tradição ou a condição que herdamos. (p. 264)

[Kant]  Ser livre é ser autônomo, e ser autônomo é ser governado por uma lei que outorgamos a nós mesmos. (p. 265)

[Kant e Rawls] (...) as escolhas que fazemos com frequência refletem contingências moralmente arbitrárias. (p. 266)

(...) os princípios de justiça que definem nossos direitos não devem ser fundamentados em nenhuma concepção moral ou religiosa específica. (p. 267)

(Kant e Rawls) [...] o que é correto tem primazia sobre o que é bom. (p. 268)

O debate sobre a prioridade do que é certo sobre o que é bom é, em última análise, um debate sobre o significado da liberdade humana. (p. 269)

A noção de que a justiça deve manter-se neutra em relação às concepções da vida boa reflete um conceito das pessoas como seres dotados de livre escolha e sem amarras morais preexistentes.(p. 270)

(Roosevelt) (...) “homens necessitados não são homens livres”. (p. 271)

[visão relativista] a justiça é simplesmente o que uma determinada comunidade define que ela deve ser. (p. 273)

(...) os ônus da vida em comunidade podem ser opressivos. (p. 273)

[MacIntyre] (...) Seres humanos são seres que contam histórias. (p. 273)

Viver vida é representar um papel em uma jornada narrativa que aspira a uma certa unidade ou coerência. (p. 274)

Como diz MacIntyre, “jamais poderei buscar o bem ou praticar a virtude apenas como indivíduo”. 38 Só entenderei a narrativa de minha vida se puder vê-la como parte das histórias das quais faço parte. (p. 274)

O dever de nos preocupar com o bem dos demais indivíduos dependerá dos acordos que tivermos feito, e com quem os fizemos.(p. 276)

Três categorias de responsabilidades morais (A) Deveres naturais: universais; não requerem consentimento (B) Obrigações voluntárias: particulares; requerem consentimento (C) Obrigações de solidariedade: particulares; não requerem consentimento. (P. 277)

Toda nação tem o dever de respeitar os direitos humanos, o que significa dar ajuda, de acordo com sua capacidade, aos seres humanos em qualquer lugar onde eles estejam passando fome, sendo perseguidos ou desalojados de seus lares. (p. 280)

Os cidadãos têm obrigações para com seus compatriotas que vão além dos deveres que têm para com os demais indivíduos do mundo? (p. 281)

O patriotismo, diz ele [Jean-Jacques Rousseau], é um princípio limitador que torna mais fortes os sentimentos entre os compatriotas. (P. 281)

Qual é o verdadeiro significado moral das fronteiras nacionais? (p. 282)

Baseadas em quê as nações têm o direito de impedir que estrangeiros se juntem a seus cidadãos? (p. 283)

Orgulho e vergonha são sentimentos morais que pressupõem uma identidade comum. (p. 288)

A capacidade de sentir orgulho e vergonha pelos atos de membros de nossa família e de nossos concidadãos tem a ver com a responsabilidade coletiva. (p. 288)

As obrigações de solidariedade só se tornam censuráveis se nos levarem a violar um dever natural. (p. 289)

Para chegar à lei moral, argumenta Kant, devemos abstrair nossos interesses e objetivos contingentes. (p. 295)  

Para deliberar sobre justiça, sustenta Rawls, devemos deixar de lado nossos objetivos, nossos apegos e nossas concepções particulares do que seja bom. (p.295)

[Aristóteles] não acha que se possa deliberar sobre justiça sem deliberar sobre o significado dos bens — cargos, honrarias, direitos e oportunidades — proporcionados pela sociedade. (p.295)

Uma política sem um comprometimento moral substancial resulta em uma vida cívica pobre. É também um convite aberto a moralismos limitados e intolerantes. (p. 296/297)

A justiça e o bem comum

[O Governo] (...) não pode endossar uma concepção particular do bem; nem os cidadãos podem introduzir suas convicções morais e religiosas no debate público sobre justiça e direitos. Porque, se o fizerem, e se seus argumentos prevalecerem, eles estarão na verdade impondo a seus compatriotas uma lei fundamentada em uma determinada doutrina moral ou religiosa. (p. 309)

No que se refere ao aborto e às pesquisas com células-tronco embrionárias, não é possível resolver a questão legal sem considerar a questão moral e religiosa implícita. (p. 314)

Permitir que casais heterossexuais se casem e não dar o mesmo direito aos homossexuais é uma discriminação contra gays e lésbicas, negando-lhes a igualdade perante a lei. (p. 314)

A essência do casamento, sustenta ela [Juíza Marshall] , não é a procriação, e sim um comprometimento exclusivo e de amor entre dois parceiros. (p. 230)

[Marshall] A fertilidade não é uma condição para o casamento, tampouco para o divórcio. (p.320)

Ela [Juíza Marshall] argumenta que relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo merecem tanto respeito quanto relacionamentos heterossexuais. (p. 321)

Para decidir quem pode qualificar-se para o casamento, devemos raciocinar no sentido do propósito do casamento e das virtudes que ele honra. (p. 321)

(...) abordagens da justiça.  [1] justiça significa maximizar a utilidade ou o bem-estar — a máxima felicidade para o maior número de pessoas. [2] justiça significa respeitar a liberdade de escolha — tanto as escolhas reais que as pessoas fazem em um livre mercado (visão libertária) quanto as escolhas hipotéticas que as pessoas deveriam fazer na posição original de equanimidade (visão igualitária liberal). [3] justiça envolve o cultivo da virtude e a preocupação com o bem comum.(p. 321)

Para alcançar uma sociedade justa, precisamos raciocinar juntos sobre o significado da vida boa e criar uma cultura pública que aceite as divergências que inevitavelmente ocorrerão. (p. 322)

Justiça não é apenas a forma certa de distribuir as coisas. Ela também diz respeito à forma certa de avaliar as coisas. (p. 323)

(...) precisamos de uma vida cívica mais sadia e engajada do que essa à qual estamos habituados. (p. 330)

É sempre possível que aprender mais sobre uma doutrina moral ou religiosa nos leve a gostar menos dela. Mas não sabermos enquanto não tentarmos.

 

Tomás

 

SANTO TOMÁS DE AQUINO

 

Leitura de: Questões Discutidas sobre a Verdade  (QUESTÃO I)

Editora: Nova Cultural, 2000

Coleção: Os Pensadores 

Tradução pública sob a licença do prof. Alexandre Correia                                                                              

 “A biografia de Tomás de Aquino pode ser sintetizada nas etapas principais de uma vida inteiramente dedicada à meditação e ao estudo.” (Carlos Lopes de Mattos)

 

ARTIGO I: Que é a verdade?

01 – [...] o conceito de cada coisa é aquilo que é significado ou expresso pela sua definição. (p. 57)

02 – [...] todas as coisas que se diferenciam pelo conceito estão uma para a outra de tal modo, que uma delas se pode compreender sem a outra. (p. 57)

03 – [...] todas as coisas que não se equivalem, diferem entre si de alguma forma. (p. 58)

04 – [citando Aristóteles] “Ao definirmos o verdadeiro, dizemos ser ele aquilo que é; ou, então, aquilo que não é”. (p. 58)

05 – [...] o verdadeiro não é conversível com o bom, visto que uma coisa pode ser verdadeira sem ser boa. (p. 59)

06 – [...] em Deus os quatro elementos, a saber, o ente, o uno, o verdadeiro e o bom, se apropriam ou predicam da forma seguinte: o ente pertence à essência, o uno à pessoa do Pai, o verdadeiro à pessoa do Filho, o bom à pessoa do Espírito Santo. (p. 59)

07 – [...] toda cognição se efetua mediante uma assemelhação do sujeito que conhece com a coisa conhecida. (p. 61)

08 – [...] a entidade da coisa antecede a esfera da verdade, ao passo que a cognição constitui um certo efeito da verdade. (p. 62)

09 – [...] citando Agostinho] “O verdadeiro é aquilo que é. (p. 62)

10 – [citando Avicena] “A verdade de cada coisa é aquela propriedade do ser que foi estabelecida para ela. (p. 62)

11 – [citando Anselmo] “A verdade consiste na retidão, perceptível exclusivamente ao espírito. (p. 62)

12 – [citando Agostinho] “A verdade é aquilo através do qual se revela aquilo que é; [...] A verdade é o critério pelo qual julgamos o que é terrestre.” (p. 62)

13 – [...] o verdadeiro no sentido mais perfeito é aquilo que constitui causa da verdade de outros. (p. 64)

 

ARTIGO II: A verdade encontra-se primariamente na inteligência ou nas coisas?

14 – [...] tudo aquilo que está em alguma coisa é posterior à coisa na qual está. (p.66)

15 – [citando Aristóteles] o bem e o mal se encontram nas coisas, ao passo que o verdadeiro e o falso residem na inteligência. [...] uma coisa só se diz verdadeira na medida em que concorda com a inteligência que a conhece. (p. 68)

16 – O conhecimento prático causa as coisas, razão pela qual constitui a medida das coisas que vem a ser por obra dela. (p. 68)

17 – [...] são as coisas da natureza, das quais a nossa inteligência haure o seu conhecimento, que constituem a medida do nosso intelecto. (p. 68)

18 – [...] o objeto natural está colocado entre duas inteligências e se denomina verdadeiro segundo a sua conformidade com ambas. (p. 69)

19 – Segundo a conformidade com a inteligência divina, a coisa criada se denomina verdadeira, na medida em que cumpre a função para a qual foi destinada pela inteligência divina, [...] Segundo a conformidade com a inteligência humana, a coisa criada se denomina verdadeira, na medida em que é apta a fornecer por si mesma uma base para um julgamento correto. (p. 69)

 

ARTIGO III: A verdade reside somente no intelecto sintetizante e analisante?

20 – Aquilo que reside num outro ser só depende dele quando é causado por derivação dos seus princípios. [...] Analogamente, a verdade, produzida na inteligência pelas coisas criadas, não depende do julgamento da alma, e sim da própria existência das coisas. (p. 70)

21 – [...] a verdade consiste na conformidade da coisa com o intelecto. (p. 71)

22 – O verdadeiro [...] reside antes na atividade do intelecto sintetizante e analisante do que na do intelecto formador das essências ou quantidades das coisas. (p. 71)

23 – [...] o conceito de verdade consiste na concordância entre a coisa e o conhecimento. [...] o conceito de verdade se verifica na inteligência primariamente no instante em que esta começa a possuir algo de próprio, que a coisa existente fora da inteligência não possui, mas que corresponde ao objeto, de modo que possa surgir a concordância entre ambos – a inteligência e a coisa. (p. 71)

24 – [...] uma definição se diz [...] falsa, quando se define uma coisa como sendo o que não é, [...]  A definição é também falsa, quando não é possível combinar ou concordar entre si as partes que a compõem. (p. 72)

 

ARTIGO IV: Haverá uma só verdade, em virtude da qual todas as coisa são verdadeiras?

25 – [citando Anselmo] Ora, o tempo está para as coisas temporais de maneira tal, que há um tempo só. Logo, também a verdade está para as coisas verdadeiras de maneira tal, que existe uma só verdade. (p. 73)

26 – [...] a verdade reveste uma dupla acepção: a) a verdade identifica-se com a essência de uma coisa, como em Agostinho - “Verdadeiro é aquilo que é”; b) a verdade se define enquanto se exprime na inteligência, como diz Hilário “O verdadeiro é declarador do ser”. (p. 73)

27 – Se, portanto, a verdade está para as coisas verdadeiras da mesma forma que o tempo está para as coisas temporais, necessariamente haverá uma só verdade numérica para todas as coisas verdadeiras. (p. 74)

28 – [...] nas coisas criadas nenhuma verdade é sua própria verdade, assim como o homem não é a verdade do home, e a verdade da carne não é a verdade da carne. [...] toda verdade é algo de incriado, só podendo existir uma verdade. (p. 74)

29 – A inteligência não julga sobre a verdade, mas segundo a verdade, da mesma forma que ao juiz não compete julgar sobre a lei, mas segundo a lei. (p. 75)

30 – [...] a verdade é para o intelecto o critério à luz do qual deve julgar tudo, visto que a inteligência não pode tomar-se como critério para julgar acerca das coisas. (p. 75)

31 – Ao contrário da verdade divina, a verdade que reside nas coisas é múltipla, assim como é múltipla a essência das coisas. (p. 78)

32 – [...] as coisas se denominam verdadeiras segundo a verdade que habita na inteligência divina ou na humana. [...] Toda coisa se denomina verdadeira segundo a verdade que habita na própria coisa. (p. 79)

33 – [...] a verdade que reside nas coisas ou na inteligência humana variam conforme variam as coisa. (p. 80)

 

ARTIGO V: Haverá alguma outra verdade eterna, além da verdade primeira?

34 – [...] nada pode ser verdadeiro a não ser em virtude da verdade. Logo, a verdade é eterna. (p.83)

35 – [...] a inteligência não pode compreender alguma coisa, se não compreender que a coisa é verdadeira. Logo, a verdade das proposições é eterna. (p. 83)

36 – [...] para que um enunciado seja verdadeiro, não se exige que uma coisa seja enunciada em ato, mas basta que exista realmente a coisa a qual se pode fazer a enunciação. (p. 84)

37 – [.] uma coisa deve ser designada mais pelo que ela é em si mesma do que peloque acidentalmente. (p. 85)

38 – [...] sempre que houver uma inteligência capaz de fazer uma enunciação, a enunciação pode existir. (p. 87)

39 – [...] uma verdade pode ser denominada verdadeira de dois modos: em relação à verdade a ela inerente e em relação a uma verdade extrínseca. (p. 88)

40 – [...] na nossa inteligência a verdade se diversifica apenas de dois modos: devido à diversidade das coisas apreendidas [...] e devido ao modo de conhecer. (p. 89)

41 – [...] a inteligência forma concepções diversas, nas quais se encontram verdades diversas. (p. 89)

42 – [...] a inteligência pode imaginar que não existe ou não conhece, embora não possa imaginar sem existir e sem conhecer. (p. 91)

43 – [...] a justiça consiste na “vontade constante e perpétua de dar a cada um o que lhe compete”. (p. 92)

44 – A paternidade e a filiação constituem uma só essência, e portanto a verdade de ambas é uma só. (p. 95)

 

ARTIGO VI: A verdade criada será imutável?

45 – [..] a verdade não ao se modificarem as coisas verdadeiras, a verdade em si mesma permanece. [citando Anselmo e Agostinho] A verdade é totalmente imutável. (p. 97)

46 – [...] onde quer que a causa seja a mesma, idêntico é também o efeito. (p. 97)

47 – [citando Agostinho] “A nossa inteligência enxerga por vezes mais e por vezes menos da própria verdade. Esta, porém, permanece inalterada em si mesma, sem aumentar ou diminuir.” (p. 99)

48 – [...] a verdade é a concordância entre o intelecto e a coisa conhecida. (p.100)

 

ARTIGO VII: A verdade se predica, em deus, da essência ou das pessoas?

49 – [...] assim como a palavra se predica das pessoas, o mesmo ocorre com a verdade. (p. 103)

 

ARTIGO VIII: Todas as verdades derivam da verdade primeira?

50 – [...] aquilo que não é causa de uma causa, tampouco é causa do efeito, assim como Deus não é causa da imoralidade, por não ser a causa da deficiência no livre-arbítrio, da qual provém a imoralidade. (p. 107)

51 – [...] a arte criadora humana é a medida de todas as suas produções. (p. 108)

52 – [...] o valor de cada coisa consiste no seu agir perfeito. (p. 109)

53 - [...] é na verdade que consiste o valor da inteligência. (p. 109)

54 – Embora o mal em si mesmo não proceda de Deus, provém de Deus, sim, o fato de a ação má ser julgada tal qual de fato é. (p. 111)

 

ARTIGO IX: A verdade existirá nos sentidos?

55 – Na inteligência, a verdade reside como alguma coisa que resulta da atividade do intelecto; como algo que é conhecido através da inteligência; nos sentidos, encontra-se como algo que resulta da atividade dos mesmos, pois a verdade está nos sentidos, na medida em que o juízo dos mesmos diz respeito às coisas.  (p. 112)

56 – [...] para que alguma coisa possa conhecer algo que está fora dela, necessita de certa forma sair de si mesma. (p.112)

 

ARTIGO X: Existirá alguma coisa falsa?

57 – [...] toda a verdade encerra a verdade a seu modo. (p. 114)

58 – [citando Agostinho] Se uma coisa se denomina falsa, isto acontece ou porque é semelhante ou porque é dessemelhante. (p. 114)

59 – [...] toda coisa se denominará verdadeira quando cumpre aquilo para que existe, e falsa, quando não cumpre. (p. 115)

60 - [...] a coisa provoca na inteligência um conhecimento de si mesma, através daquilo que dela aparece externamente. (p. 116)

61 – [...] falso é aquilo que, conaturalmente, ou parece diversamente do que é na realidade, ou parecer ser uma coisa que na realidade não é. (p. 117)

62 – [...] tanto a verdade como a falsidade têm a sua sede antes de tudo no julgamento dado pela inteligência. (p. 117)

63 – [...] a coisa se denomina falsa [...] pelo fato de que conaturalmente tende a provocar um tal juízo através do que dela aparece externamente. (p. 117)

64 – [...] verdadeiro é aquilo que se denomina e se conhece tal como realmente é; falso é aquilo que não é, no sentido de que não é na realidade tal como se diz e se entende ser. (p. 117)

65 – Uma coisa se denomina falsa na medida em que tende a enganar. (p. 118)

66 – [...] a inteligência se equivoca segundo a capacidade maior ou menor que tem de discernimento para descobrir a semelhança. (p. 119)

 

ARTIGO XI: Existirá falsidade nos sentidos?

67 – [...] o juízo que a inteligência emite acerca das coisas, emite-o também sobre aquilo que lhe é oferecido pelos sentidos. (p. 122/123)

68 – Em se tratando, porém, dos dados sensitivos comuns e dos acidentais, os sentidos por vezes se enganam. (p. 123)

69 – [...] a imaginação via de regra apreende a coisa diferente do que é, porquanto apreende a coisa como presente, estando ausente. (p. 124)

 

ARTIGO XII: Existirá falsidade na inteligência?

70 – O intelecto tem dois modos de operar: um é aquele mediante o qual forma as quididades das coisas, e nesta operação não há falsidade; o outro é aquele mediante o qual opera a síntese e a análise, sendo que também aqui não há falsidade. (p.224/225)

71 – [citando Agostinho] “Se alguém se engana, é não entende aquilo em que se engana”. [citando Al Gazali] “De duas, uma ou compreendemos uma coisa como ela é, ou não compreendemos.” (p. 225)

 NIETZSCHE

FRIEDRICH NIETZSCHE

Leitura de Assim Falou Zartustra (1ª Parte)

 

Editora: Martin Claret, 1999

Coleção: A Obra-Prima de Cada Autor 

Tradução: Pietro Nassetti                                                                                                     

 

PREÂMBULO DE ZARATUSTRA

 

Aos trinta anos Zaratustra afastou-se da sua pátria e do lago de sua pátria, e dirigiu-se à montanha.

Zaratustra, porém, ao ficar sozinho falou assim ao seu coração: “Será possível que este santo ancião ainda não ouviu no seu bosque que Deus já morreu?” (p. 25)

01 - O que é o macaco para o homem? Uma zombaria ou uma dolorosa vergonha. (p. 25)

02 - Noutro tempo fostes macaco, e hoje o homem é ainda mais macaco do que todos o macacos. (p. 25)

03 - Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele todas as blasfêmias. (p. 25)

04 - O homem é um rio turvo. É preciso ser um mar para, sem se toldar, receber um rio turvo. (p. 26)

05 - Amo os que não procuram por detrás das estrelas uma razão para sucumbir e oferecer-se em sacrifício. (p. 27)

06 - Uma virtude é mais virtude do que duas, porque é mais um nó a que se ata o destino. (p. 27)

07 - [...] é preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante. (p. 28)

08 -Todos querem o mesmo, todos são iguais: o que pensa de outro modo tende a ir para o manicômio. (p. 29)

09 - Coisa para nos preocupar é a vida humana, e sempre vazia de sentido: um trovão lhe pode ser fatal! (p. 30)

10 - Quem dá comida ao faminto reconforta a sua própria alma. (p.32)

11 - [..] preciso de companheiros, mas vivos, e não de companheiros mortos e cadáveres, que levo para onde quero. (p. 32)

12 - O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos, nem crentes; procura colaboradores que inscrevam valores novos ou tábuas novas. (p. 32)

 

OS DISCURSOS DE ZARATUSTRA

 

Das Três Transformações

(como o espírito se transforma em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança)

13 - O espírito sólido sobrecarrega-se de todas essas coisas pesadíssimas; e à semelhança do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto. [...] No deserto, o espírito torna-se leão; quer conquistar a liberdade e ser senhor do seu próprio deserto. (p. 35)

14 - Conquistar o direito de criar novos valores é a mais terrível apropriação aos olhos de um espírito sólido e respeitoso. (p. 36)

15 - A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação. (p. 36)

 

Das Cátedras da Virtude

16 - “Honrai o sono e respeitai-o! É isso o fundamental. (p.37)

17 - Dez vezes ao dia deves saber vencer-te a ti mesmo. (p.37)

18 - Dez vezes deves reconciliar-te contigo mesmo. (p.37)

19 - Dez verdades hás de encontrar durante o dia. (p.37)

20 - Dez vezes ao dia precisas rir e estar alegre. (p.37)

 

Dos Crentes em Além-Mundo

21 - Este deus que eu criei era obra humana e humano delírio, igual a todos os deuses. [...] Esse fantasma saia das minhas próprias cinzas, [...] e na verdade nunca veio do outro mundo. (p. 39)

22 - Sofrimento e incompetência; eis o que criou todos além-mundos. (p. 39)

23 - Enfermos e decrépitos foram os que menosprezaram o corpo e a terra, os que inventaram as coisas celestes e as gotas de sangue redentor. (p. 40)

24 - Houve sempre muitos enfermos entre os que sonham e suspiram por Deus; [...] Olham sempre para trás, para tempos obscuros; nesse tempo, certamente, a ilusão e a fé eram outra coisa. O delírio da razão era algo divino, e a dúvida, pecado. (p.40)

 

Dos Que Desprezam o Corpo

25 - [...] o que está desperto e atento diz: - “Tudo é corpo e nada mais; a alma é apenas nome de qualquer coisa do corpo”. (p. 41) 

26 - O corpo criador criou a si mesmo o espírito como emanação de sua vontade. (p. 42)

 

Do Pálido Delinquente

27 - E tu, vermelho juiz, se dissesses em voz alta o que fizeste já em pensamento, toda gente gritaria: Abaixo essa imundície e esse verme venenoso. (p. 44)

28 - Uma coisa é o pensamento, outra a ação, outra a imagem da ação. (p.44)

29 - O juiz vermelho fala assim: “Por que foi que este criminoso matou? Queria roubar.” Mas eu vos digo: a sua alma queria sangue e não o roubo; tinha sede do gozo da faca! (p. 44)

30 - Dantes era um mal a dúvida e a vontade própria. Então o enfermo torna-se herege e bruxa; como herege e bruxa padecia e fazia padecer. (p. 45)

 

Ler e Escrever

31 - De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa escreveu com o seu sangue. [...] eu detesto todos os ociosos que leem.  (p. 45)

32 - Nas montanhas, o caminho mais curto é o que medeia de cimo a cimo; mas para isso é preciso ter pernas altas. (p. 45)

33 - Vós dizeis-me: “A vida é carga pesada”. Mas para que é esse vosso orgulho pela manhã e essa vossa submissão à tarde? (p. 46)

34 - Todos somos jumentos carregados. (p. 46)

 

Da Árvore da Montanha

35 - Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos não poderia; mas o vento que não vemos açoita-a e dobra-a como lhe apraz. Também a nós mãos invisíveis nos açoitam e dobram rudemente. (p. 46)

36 – Por que te assustas? O que sucede à árvore sucede ao homem? (p. 46)

37 – O perigo do nobre, contudo, não é tornar-se bom, mas insolente, zombeteiro  destruidor. (p. 48)

38 – [...] não expulses para longe de ti o herói que há na tua alma! Santifica a tua mais elevada esperança. (p. 48)

 

Dos Pregadores da Morte

39 – Há pregadores da morte, a terra está cheia de indivíduos a quem é preciso pregar que desapareçam da vida (p. 48)

40 – Eis os fracos de alma. Mal nasceram e já começaram a morrer, e sonham com as doutrinas do cansaço e da renúncia. (p. 48)

 

Da Guerra e dos Guerreiros

41 - Vejo muitos soldados; oxalá possa ver muitos guerreiros. Chama-se “uniforme” o seu traje; não seja, porém, uniforme o que esse traje oculta! (p. 50)

42 – Não vos aconselho o trabalho, mas a luta. Não vos aconselho a paz, mas a vitória. Seja o vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória! (p. 50)

 

Do Novo Ídolo

43 – Estado Chama-se o mais frio de todos os monstros. Mente também friamente, e eis que mentira rasteira sai da tua boca: “Eu, o Estado, sou o Povo”. (p. 51)

44 – Onde há ainda povo não se compreende o Estado que é odiado como uma transgressão aos costumes e às leis. (p. 51)

45 – O Estado é onde todos bebem veneno, os bons e os maus; onde todos se perdem a si mesmos, os bons e os maus; onde o lento suicídio de todos se chama “vida”. (p. 52)

46 – Na verdade, quem pouco possui tanto menos é possuído. (p. 53)

 

Das Moscas da Praça Pública

47 – O mundo gira em torno dos inventores de valores novos; gira invisivelmente; mas em torno do mundo giram o povo e a glória: assim anda “o mundo” (p. 53)

48 – Nunca a verdade pendeu do braço de um espírito absoluto. (p. 54)

49 – Longe da praça pública e da glória viveram sempre os inventores de novos valores. (p. 54)

50 – Também sucede fazem-se amáveis contigo; mas foi sempre essa a astúcia dos covardes. (p. 54)

51 – Sim, meu amigo; és a consciência roedora dos teus próximos, porque não são dignos de ti. Por isso te odeiam e quereriam sugar-te o sangue (p. 55)

 

Da Catástrofe

52 – Tem lodo no fundo da alma; e coitados deles se o seu lodo possui inteligência! (p. 55)

53 – [...] para ser animal é preciso inocência. (p. 55)

54 – [...] há os castos por essência; são de coração mais meigo, agrada-lhes mais rir, e riem mais que vós. (p. 56)

55 – É preciso honrar no amigo o inimigo. (p. 56)

 

Os Mil Objetos e o Único Objeto

56 – “Honrar pai e mãe, e ter para eles submissão”. Essa tábua das vitórias sobre si elegeu outro povo, e com ela foi eterno e poderoso. (p. 58)

57 – O homem é que pôs valores nas coisas com a intenção de se conservar; foi ele que deu sentido às coisas, um sentido humano. (p. 58)

58 – A mudança dos valores é mudança de quem cria. (p. 59)

59 – Sempre aquele que cria destrói. (p. 59)

60 – O prazer do rebanho é mais antigo que o prazer do Eu. E enquanto a boa consciência se chama rebanho, só a má diz; Eu. (p. 59)

 

Do Amor ao Próximo

61 – Fugis de vós em busca do próximo, e quereis converter isso numa virtude; mas eu compreendo vosso “desinteresse”. (p. 59)

62 - [...] “o trato com os homens exaspera o caráter, principalmente quando não o temos”. (p. 60)

 

Do Caminho do Criador

63 – Ai! Existem tantos pensamentos grandes que apenas fazem o mesmo que um fole. Incham esvaziam. (p. 61)

64 – Podes proporcionar a ti mesmo teu bem e o teu mal, e suspender a tua vontade por cima de ti como uma lei? Podes ser o teu próprio juiz e vingador da tua lei? (p. 61)

65 –[...] quanto mais alto sobes tanto mais baixo te veem os olhos da inveja. E ninguém é tão odiado como o que voa. (p. 62)

66 – O pior inimigo, todavia, é tu mesmo: lança-te a ti próprio nas cavernas e nos bosques. (p. 62)

 

A Velha e a Nova

67 – O homem é para aa mulher um meio; o fim é sempre o filho. Que é, porém, a mulher para o homem? (p. 63)

68 – [...] a mulher mais doce tem sempre o seu quê de amargo. (p. 63)

68 – Tema o homem a mulher, quando a mulher odeia: porque, no fundo, o homem é simplesmente mau; mas a mulher é perversa. (p. 63)

69 – A felicidade do homem é: eu quero; a felicidade da mulher é: ele quer. (p. 63)

 

A Picada da Víbora

70 – Uma pequena vingança é mais humana do que nenhuma. (p. 65)

71 – No que quer ser verdadeiramente justo, a mentira muda-se em filantropia. (p. 65)

72 – Um solitário é como um poço profundo. É fácil lançar nele uma pedra; mas se a pedra vai ao fundo, quem se atreverá a tirá-la? (p. 65)

 

Do Filho do Matrimônio

73 – Matrimônio: chamo assim à vontade de dois criarem um que seja mais do que aqueles que o criaram. (p. 66)

 

Da Morte Livre

74 – Morrer assim é o melhor, e morrer na luta é prodigalizar uma grande alma ainda maior. (p. 67)

75 – Faço-vos o elogio da minha morte, da morte livre, que vem porque eu quero. (p. 67)

76 – E o que queira desfrutar glória deve despedir-se a tempo das honrasse exercer a difícil arte de se retirar a tempo. (p. 67)

 

Da Virtude Dadivosa

77 – A mais alta virtude é rara e inútil: é resplandecente e de um brilho brando; uma virtude dadivosa é a mais alta virtude. (p. 69)

78 – Assim atravessa o corpo a história, lutando e elevando-se. E o espírito [...] É o arauto das suas lutas e vitórias, o seu companheiro eo seu eco. (p. 70)

79 – Quando desprezais o que é agradável, a cama fofa, e quando nunca vos credes bastante longe da moleza para repousar, então assistis à origem da vossa virtude. (p. 70)

80 – O homem que pondera não só deve amar os seus amigos, mas também odiar os seus inimigos. (p. 72)

                                                                  SANTO AGOSTINHO      

SANTO AGOSTINHO

                                     A lua e as estrelas consolam a noite com o seu brilho

 

Leitura de Confissões

 

Editora: Nova Cultural, 2000

Coleção: Os Pensadores

Tradução: J. Oliveira Santos, S.J., A. ambrósio de Pina, S.J. 

Vida e Obra por: José Américo Motta Pessanha                                                      

 

Vida e Obra

01 - É necessário compreender para crer e crer para compreender. (“Intellige ut credas, crede ut intelligas”) (p.13)

02 - Platão define o homem uma alma que se serve de um corpo. (p.15)

03 - A teoria agostiniana estabelece [...] que todo conhecimento verdadeiro é o resultado de um processo de iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as ideias, arquétipos eternos de toda a realidade. (p.17)

04 – para Agostinho, Deus compreende três pessoas iguais e consubstancias: Pai, Filho e Espírito Santo. O Pai é a essência divina em sua insondável profundidade; o Filho é o verbo, a razão ou a verdade, através da qual Deus se manifesta; o Espírito Santo é o amor, mediante o qual Deus dá nascimento a todos os seres. (p.18/19)

05 – O pecado é, segundo Agostinho, uma transgressão da lei divina, na medida em que a alma foi criada por Deus para reger o corpo, e o homem, fazendo mal uso do livre-arbítrio, inverte essa relação, subordinando a alma ao corpo e criando na concupiscência e na ignorância. (p.20/21)

06 – A salvação não é apenas uma questão de querer, mas de poder. E esse poder é privilégio de Deus. (p.21)

 

PARTE I

Livro I (A Infância)

07 – [...] nunca vi ninguém que, para cortar o mal, rejeitasse conscientemente o bem! (p.44)

08 – Todavia, contra a vontade, ninguém procede bem, ainda que a ação em si mesma seja boa. (p.50)

09 – Não se levantem contra mim esses vendedores e compradores de gramáticas, pois se os interrogar  lhes propuser uma dificuldade acerca da veracidade do poeta ao narrar que Enéias veio a Cartago, os néscios responderão que não sabem, os instruídos negarão a autenticidade do fato. Mas se lhes perguntar com que letras se escreve o nome de Enéias, todos os que estudaram responder-me-ão acertadamente segundo esse contrato com que os homens fixaram o valor do alfabeto. (p.52/53)

10 – [...] para aprender, é mais eficaz uma curiosidade espontânea do que um constrangimento ameaçador. (p.54)

11 – Não incrimino as palavras, quais vasos escolhidos e preciosos, mas o vinho do erro que por eles nos davam a beber os mestres embriagados. (p.56)

 

Livro II (Os Pecados da Adolescência)

12 – [...] que ladrão haverá que suporte com gosto outro ladrão, se até o rico não perdoa ao indigente que foi compelido ao roubo pela miséria? (p.68)

13 – Portanto, quando se indagar a razão por que se praticou um crime, esta ordinariamente não é digna de crédito, se não se descobre que a sua causa pode ter sido ou o desejo de alcançar alguns dos bens a que chamamos ínfimos, ou o medo de os perder. (p.68)

14 – A sevícia dos poderosos  aspira a fazer-se temer;   [...]; as carícias dos voluptuosos desejam a reciprocidade do amor; [...]; a curiosidade parece ambicionar o estudo da ciência; (p.71); a ignorância e a estultícia se encobrem sob o nome de simplicidade e de inocência; à preguiça parece apetecer  apenas o descanso;  a luxúria deseja apelidar-se sociedade e abundância; a prodigalidade cobre-se com a sombra da liberdade; a avareza quer possuir muito; a inveja litiga acerca da “excelência”; a ira procura vingança; o temor, enquanto vigia pela segurança das coisas que ama, detesta os acontecimentos insólitos e inesperados que lhe sejam adversos; a tristeza definha-se com a perda dos bens em que a cobiça se deleita. (p.71)

 

Livro III (Os Estudos)

15 – [...] por que quer o home condoer-se, quando presencia cenas dolorosas e trágicas, se de modo algum deseja suportá-las? Todavia o telespectador anseia por sentir esse sofrimento, que, afinal, para ele constitui um prazer. (p.80)

16 – [...] ao sofrimento próprio chamamos ordinariamente desgraça, e à comparticipação das dores alheias, compaixão. (p.80)

17 – [...] a compaixão é companheira inseparável da dor. (p.80)

18 – [...] o mal é apenas a privação do bem, privação cujo último termo é o nada. (p.88)

19 – É indecorosa a parte que não condiz com seu todo. (p.91)

 

Livro IV (O Professor)

20 – [...] O tempo não descansa, nem rola ociosamente pelos sentidos: pois produz na alma efeitos admiráveis. (p.107)

21 – De tal maneira se amam (os amigos) que a consciência humana se julga por culpada, se não ama a quem lhe paga amor com amor, ou se não paga com amor a quem primeiro a amou, só procurando na pessoa do amigo os sinais exteriores da benevolência. Daqui, esse luto quando alguém morre, as trevas de dores, o coração umedecido pela mudança da doçura em angústia e a morte dos vivos pela perda da vida dos morros. (p.108)

22 – Nem tudo envelhece, mas tudo morre. Por isso, os seres vivos quando nascem e se esforçam por existir, quanto mais depressa crescem para existir  tanto mais se apressam a não existir. (p.109)

23 – É assim que as conversas se completam por meio de sinais sonoros não existiriam na sua totalidade se cada palavra, depois de emitidas as sílabas, se não extinguisse, para outra lhe suceder. (p.109)

24 – Como encontrar vida feliz onde nem sequer vida existe? (p.111)

25 – [...] só se ama o que é louvado quando se está persuadido de que esses louvores partem de um coração que não engana; quer dizer, quando é o afeto (sincero) que louva. (p.113)

26 – Como amo noutrem o que odeio e repilo para longe de mim? (p.113)

27 – Não se pode efetivamente aplicar ao histrião, companheiro de nossa natureza, o que s diz de um bom cavalo que alguém estima, e ao qual ninguém se quer assemelhar, mesmo no caso de isso ser possível? (p.113)

28 – Para a alma a luz cobre-se de nuvens e a verdade não se distingue, estando diante de nós. (p.114)

29 – Definia (Agostinho) o belo “o que agrada por si mesmo”; e o conveniente “o que agrada pela sua acomodação a alguma coisa”. (p.114)

30 – Comete-se um crime quando o movimento vicioso do espírito, onde reside a paixão, se atira arrogante e tumultuosamente, ou pratica-se uma infâmia qundo a alma não refreia os afetos de onde nascem os prazeres carnais. (p. 115)

 

Livro V (E Roma e em Milão)

31 – [...] não devemos ter qualquer coisa como verdadeira pelo fato de ter sido dita eloquentemente, nem como falsa, por ser expressa em linguagem rude. (p. 129)

32 – A sabedoria e a ignorância são como os alimentos úteis ou nocivos. Podem-nos ser apresentados com palavras polidas ou com rudeza de forma, como os bons e maus alimentos nos podem ser servidos em pratos finos ou grosseiros. (p.130)

 

Livro VI (Entre Amigos)

33 – Costuma suceder ao doente que consultou um médico desprestigiado ter depois receio de um médico bom. (p.151)

34 – [...] ao julgar uma causa, o homem não deve condenar a outro com facilidade e crueldade temerária. (p.158)

35 – A vida é miserável e a hora da morte, incerta. (p.162)

 

Livro VII (A Caminho de Deus)

36 – [...] um lugar vazio seria como que um nada espaçoso. (p.172)

37 – [...] o livre-arbítrio da vontade é a causa de praticarmos o mal, eo vosso juízo (de Deus) o motivo de o sofrermos. (p.174)

38 – Sobre o mal, Agostinho faz reflexões;

  • De onde me veio, então, o querer o mal e não o bem? (p.175)
  • Seria para que houvesse motivo de eu justamente ser castigado? (p.175)
  • Quem colocou em mim e quem semeou em mim este viveiro de amarguras, sendo eu inteira criação do meu Deus tão amoroso? (p.175)
  • Onde está, portanto, o mal? (p.177)
  • De onde e por onde conseguiu penetrar? (p.177)
  • Qual é a sua raiz e a sua semente? (p.177)
  • Por ventura, não existe nenhuma? (p.177)
  • Por que recear muito, então, o que não existe? (p.177)
  • Qual sua origem, se Deus, que é bom, fez todas as coisas? (p.177)
  • De onde, pois, veio o mal? (p.177)
  • Por que sofremos? (p.215)

39 – O mal é tanto mis compreensivo quanto é certo que não existe o que tememos, e nem por isso deixamos de temer. Por consequência, ou existe o mal que tememos, ou esse temor é o mal. (p.177)

40 – Quem conhece a Verdade conhece a Luz Imutável, e quem a conhece, conhece a Eternidade. (p.186)

41 – Mais facilmente duvidaria da minha vida do que d existência da Verdade, cujo conhecimento se apreende por meio das coisas criadas. (p.186)

42 – [...] só existe verdadeiramente o que permanece imutável. (p. 186)

43 – [...] um juízo mais sensato fazia-me compreender que a criação em conjunto valia mais que os elementos superiores tomados isoladamente. (p.189)

44 – [...] todas as coisas existem, e não há falsidade senão quando se julga que existe aquilo que não existe. (p.190)

45 – [...] não é de admirar que o pão, tão saboroso ao paladar saudável, seja enjoativo ao paladar enfermo, e que a luz, amável aos olhos límpidos, seja odiosa aos olhos doentes. (p.190)

 

Livro VIII (A Conversão)

46 – Triunfa o general vitorioso. Mas não teria alcançado a vitória se não tivesse pelejado, e quanto mais grave foi o perigo no combate, tanto maior é o gozo no triunfo. (p.206)

47 – Não há prazer nenhum no comer e beber, se o incômodo da fome e da sede o não precede. (p.207)

48 – [...] uma alegria maior é precedida de uma dor maior. (p.207)

49 – Ora, a luxúria provém da vontade perversa; enquanto se serve à luxúria, contrai-se o hábito; e se não se resiste a um hábito, origina-se uma necessidade. (P.209)

50 – [...] a lei do pecado é a violência do hábito, pela qual a alma, mesmo contrafeita, é arrastada e presa, mas merecidamente, porque, querendo, se deixa escorregar. (p.210/211)

51 – [...] quando se delibera, a alma é uma só, hesitante entre diversas vontades. (p.219)

 

Livro IX (O Batismo)

52 – Assim como as ondulações dos amigos nos pervertem, do mesmo modo as censuras dos inimigos nos reforma. (p.241)

 

SEGUNDA PARTE

Livro X

53 – De fato, não estando agora alegre, recordo-me de ter estado contente. Sem tristeza, recordo a amargura passada. Repasso sem temor o medo que outrora senti, e, sem ambição, recordo a antiga cobiça. Algumas vezes, pelo contrário, evoco com alegria as tristezas passadas; e com amargura relembro as alegrias. (p.272/273)

54 – A alegria, porém, e a tristeza são o seu alimento (do ventre da alma), doce ou amargo. (p.273)

55 – [...] são quatro as perturbações da alma: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. (p.273)

56 – A presença do esquecimento faz com que o não esqueçamos; mas quando está presente, esquecemo-nos. (p.275)

57 – Quando um grego ouve pronunciar esse vocábulo (felicidade) em latim, não se deleita, porque ignora o sentido. Mas nós deleitamo-nos; e ele também se deleita, se ouve em grego, porque a felicidade real não é grega nem latina, mas os gregos, os latinos e os homens de todas as línguas têm um desejo ardente de a alcançar. (p.280)

58 – [...] nem a abundância me há de fazer rico nem a necessidade me há de tornar pobre. (p.290)

59 – Quem é que, sendo pior, não se pode tornar pior, e de melhor descer a pior? (p.292)

60 – Os louvores humanos são a fornalha onde cotidianamente somos postos à prova. (p.300)

61 – A verdade, porém, é que não distinguimos se a privação de um bem nos é indiferente ou molesta, senão na ausência desse bem. (p.301)

62 – Tão pesado é o fardo do costume! Não quero estar onde posso, nem posso estar onde quero. De ambos os modos sou miserável! (p.304)

 

Livro XI (O Homem e o Tempo)

63 – [...] a duração do tempo não será longa, se não se compuser de muitos movimentos passageiros. (p.320)

64 – Quem poderá prender o coração do homem, para que pare e veja como a eternidade imóvel determina o futuro e o passado, não sendo ela nem passado nem futuro? (p.320)

65 – Quando se canta uma melodia conhecida, o afeto varia e o sentimento espraia-se com a expectativa dos sons que estão para vir ou com a recordação dos que passaram. (p.340)

 

Livro XII (A Criação)

66 – Que são as trevas senão a ausência da luz? (p.344)

67 – [...] não há tempo sem variedade de movimentos; nem há variedade alguma onde não há nenhuma forma. (p.350)

68 – [...] a diferença que há entre a Luz que ilumina e a luz iluminada é tão grande como a que separa a Sabedoria criadora da sabedoria criada, ou como a que distingue a Justiça justificante da justiça feita em nós pela justificação. (p.354)

 

Livro XIII (A Paz)

69 – Quisera que os homens meditassem três coisas, dentro de si mesmo. [...] As três coisas que digo são: existir, conhecer, e querer. Existo, conheço e quero. Existo sabendo e querendo; e sei que existo e quero; e quero existir e saber. [...] a vida é inseparável nestes três conceitos: uma só vida, uma só inteligência, uma só essência, sem que seja possível operar uma distinção, que, apesar de tudo, existe. (p.384)

70 – [...] é o sentimento nascido de nossa miséria que nos leva a ter piedade dos que estão precisados, na proporção em que desejaríamos que nos auxiliassem, se tivéssemos as mesmas necessidades. (p.391)

71 – Repartamos o nosso pão com os que têm fome, alojemos em nossa casa o pobre sem abrigo, vistamos os nus e não desprezemos os que, “habitando sob o mesmo teto, são nossos semelhantes”. (p.391)

72 – A dádiva é o próprio objeto oferecido por quem nos provê nas necessidades, como dinheiro, comida, bebida, roupa, pousada e ajuda. O fruto, porém, é a boa e sincera vontade do doador. (p.408)

73 – É uma dádiva receber um profeta, receber um justo, dar um copo de água fresca a um discípulo. O fruto, porém, está em praticar esta ação como a um profeta, como a um justo, como a um discípulo. (p.408)

74 – Um corpo, formado de membros todos belos, é muito mais belo que cada um dos seus membros de cuja conexão harmoniosíssima se forma o conjunto, posto também que cada membro separadamente tenha uma beleza peculiar.  (p.409)

75 – Quem dos homens sabe o que é do homem, senão o espírito do homem que nele está? (p.411)

 

Notei que vossas obras, consideradas singularmente,

são belas, e em seu conjunto, ainda mais belas.

 

fim

 

                                                                   NIKOLAI GOGOL

                                                                  Nikolai Gógol

                                                                Leitura de Almas Mortas, 2003

 

Título Original: MIÓRTVIE DÚCHI                                                                                      Tradução: Tatiana Belinky

Nem na cidade Bogdan nem na aldeia Selifan. Tens de viver honestamente, se quiseres que te respeitem.

01 – Em toda parte, onde quer que seja a vida, quer nas camadas áspero-pobres e míseros-humildes da sociedade, monótonas-frias e enfadonho-asseadas classes altas, em qualquer nível, surge uma vez na vida de um ser humano uma visão, diversa de tudo o que até então lhe fora dado encontrar, e que, por uma única vez que seja, desperta nele um sentimento diferente de todos aqueles que lhe foi destinado sentir em toda sua existência. (p. 117)

02 – Há certos indivíduos que existem no mundo não como objetos, mas como pintinhos ou manchinhas sobre um objeto. Sentam-se sempre no mesmo lugar, mantêm a cabeça na mesma posição, são quase tomados por peças de mobiliário, e pode-se pensar que de seus lábios jamais escapou uma palavra; e no entanto, em algum recanto na despensa ou na cozinha, descobre-se que... oh! oh! (p. 125)

03 – [...] quem nasceu para punho fechado não consegue viver de mão aberta. (p. 136)

04 – [...] o conhecimento da alma humana e a serena ciência da vida se refletem o falar do britânico; leve e faceiro, brilha e cintila o efêmero verbo do francês; pensada e ponderada, nem sempre acessível a todos, elabora o alemão sua palavra enxuta e intelectualizada; mas não existe palavra tão vibrante e ágil que se solta tão livre espontânea do âmago da alma, que ferve e borbulha com tanta vida, como uma bem aplicada e certeira palavra russa. (p. 140)

05 – Em suma, tudo era belo, como não o conseguem criar nem natureza, nem a arte, mas como pode acontecer quando ambas se encontram juntas; quando, por cima da trabalho humano, muitas vezes atabalhoado  e sem sentido, passa a natureza com o seu cinzel definitivo, aliviando as massas pesadas, destruindo a grosseira simetria e a pobreza da planificação simplória e nua, infundindo maravilhoso calor a tudo que foi organizado com a frieza de uma ordem limpa e meticulosa. (p. 145)

06 – O impetuoso jovem de hoje recuaria horrorizado se lhe mostrassem o seu próprio retrato, depois de velho. [...] A sepultura é mais clemente do que ela, na sepultura se inscreverá: “Aqui jaz um homem!” Mas nada se poderá ler nas linhas insensíveis da desumana velhice. (p. 164)

 07 – Leve o teu quinhão, mas em troca não me deixes na mão. [provérbio russo] (p. 193)

08 – [...] que é que um homem não faz quando está a sós consigo mesmo, sentindo que é bonito, e sabendo além disso que ninguém está espiando pela fresta da porta! (p. 207)

09 – Existem necessidades de toda espécie nos corações humanos, tanto as do sexo masculino como do feminino. (p. 241)

10 – Dizem que um homem que se afoga agarra-se a uma palha, e nesse momento ele não tem juízo para pensar que uma palha pode servir quando muito de montaria a uma mosca, enquanto ele psa cinco arrobas, senão todas as seis (p. 269)

11 –[...] “não adianta o boi ordenhar, que leite ele nunca vai dar.” (271)

12 – Basta que se tenha uma parte boa em dez, para ser reconhecido como imbecil, apesar das nove partes boas. (p. 273)

13 – [...] a geração presente ri, e, rindo, orgulhosa e auto-suficiente, d9á inicio a uma série de erros e mal-entendidos, dos quais mais tarde zombarão seus descendentes. (p. 273)

14 – Que estranha atração, que enlevo, que fascínio residem na palavra estrada! E como é maravilhosa ela mesma, a estrada! (p. 287)

15 – Sábio é aquele que não recua diante de caráter algum, mas, cravando nele o olhar perscrutador, sonda-o e penetra no seu imo mais recôndito. (p. 316)

16 – Depressa tudo se transforma no ser humano: nem ele próprio percebe como cresce dentro dele um verme terrível, que, imperioso, atrai para si toda a seiva vital. (p. 316)

17 – Bem aventurado aquele que soube escolher entre todas as paixões a mais elevada: sua bem-aventurança cresce e se multiplica, desmesurada, a cada hora, a cada minuto, e ele penetra cada vez mais fundo no paraíso infinito da sua própria alma. (p. 316)

18 – Sim, meus bons leitores, vós preferiríeis não ver descoberta a miséria humana. (p. 317)

19 – [...] (d)os chamados patriotas, que ficam bem tranquilos nos seus cantos, ocupados com os seus negócios particulares, inteiramente alheios ao caso, acumulando seus capitaizinhos, construindo seus destinos à custa dos outros; mas assim que acontece alguma coisa que, na sua opinião, é ofensiva à pátria; se aparece, por exemplo, um livro que constata às vezes alguma verdade amarga, eles surgem correndo de todos os cantos, como aranhas que pressentiram uma mosca na teia, e levantam logo uma gritaria: “Será que está certo trazer isso à luz do dia, proclamar essas coisas? Se tudo isso que está escrito aí é nosso – será que convém mostra-lo? E o que dirão os estrangeiros? Então é agradável ouvir opiniões desairosas sobre nós mesmos? Então iss não dói? Estão pensando que não somos patriotas?” (p. 318)

20 – Às vezes acontece que, numa orquestra, uma trombeta desgarrada solta uma clarinada tal, que parece ressoar não na orquestra, mas dentro do próprio ouvido do ouvinte. (p. 356)

21 – [...] o isolamento alimenta no homem pensamentos profundos. (p. 359)

22 – [...] os livros salvam o homem da ociosidade. (p. 359)

23 – Quando eu vejo que diante de todos se perpetram as piores fraudes, e esses indivíduos não são punidos pelo desprezo geral, eu não sei o que se passa comigo, fico tão raivoso que até sinto mal. (p. 375)

24 – [...] as besteiras só entram na cabeça de quem não trabalha (p. 399)

25 – Se o que o senhor deseja é enriquecer depressa, então nunca enriquecerá; porém, se quiser enriquecer sem se preocupar com o tempo que isso levará, ficará rico depressa. (p. 416)

26 – Deus reservou para si mesmo o ato a criação, como o mais elevado de todos os defeitos, e exige do homem que também ele seja um criador de bem-estar ao seu redor. (p. 418) 

27 – [...] a natureza gosta de paciência: esta é uma lei que lhe foi dada pelo próprio Deus, que prometeu a bem-aventurança aos pacientes. (p. ?)

28 – É difícil resistir, quando todos em volta fazem o mesmo, e a moda também ordena – vá alguém abster-se! Impossível resistir o tempo todo, um homem não e Deus. (p. 450)

29 – [...] o ócio traz tentações nas quais um homem nem pensaria se tivesse ocupado, trabalhando. (p. 456)

30 – O mais importante não ´que o homem seja culpado perante os outros, mas sim que o homem seja culpado perante si mesmo [...] (p. 472)

31 – [...] eles já estão tão enredados nos seus papéis que, por trás dos papéis, nem enxergam mais as causas. (p. 485)

32 – [...] o que menos importa são os bens por quais os homens se dilaceram mutuamente, como se se pudesse criar o bem-estar nessa vida, sem penar na outra vida. (p. 488)

33 – [...] enquanto não abandonarem tudo aquilo por que se entredevoram e se exterminam na terra, e não pensarem o bem-estar espiritual, não conseguirão o bem-estar terreno. (p. 488)  

34 – [...] não existem meios, intimidações ou castigos que possam erradicar a corrupção: ela já está muito enraizada. A desonrosa prática de receber propinas tornou-se necessidade – indispensável até a homens que não nasceram para ser desonestos. (p. 492)

35 – [...] cabe mais ao subordinado adaptar-se ao caráter do chefe que o chefe adaptar-se ao do subordinado. Isto ao menos é mais legítimo e mais fácil, porque os comandados  têm um só comandante , ao passo que o comandante tem centenas de comandados. (p. 493)

36 – O problema que se nos defronta agora é que chegou a hora de salvarmos a nossa pátria. Que a nossa pátria está perecendo, não pela invasão de vinte tribos estrangeiras, mas por nossas próprias mãos. Que já se formou, ao lado do governo legítimo, um outro governo, muito mais forte que o governo legal. (p. 493)

 

 Iguinho

Antoine de Saint-Exupéry

 

Leitura do Pequeno Príncipe 31ª edição

(Traduzido do original em francês: Le Petit Prince)

 

01 - Quando a gente anda sempre para a frente, não pode mesmo ir longe (cap.3)

02 - As crianças devem ser muito indulgentes com as pessoas grandes. (cap. 4)

03 - Se é roseira ou rabanete, podemos deixar que cresça à vontade. Mas quando se trata de uma planta ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido. (cap. 5)

04 - Meninos! Cuidado com os baobás! (cap. 5)

05 - Quando a gente está triste demais, gosta do pôr-do-sol. (cap. 6)

06 - [...] não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume (cap. 8)

08 - É preciso suportar duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. (cap. 9)

09 - Se eu ordenasse o meu general voar de uma flor a outra como borboleta, ou escrever uma tragédia, ou transformasse em gaivota, e o general não executasse a ordem recebida, quem – ele ou eu – estaria errado? (cap. 10)

10 - É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar. A autoridade repousa sobre a razão. (cap. 10)

11 - Eu tenho o direito de exigir obediência porque minhas ordens são razoáveis. (cap. 10)

12 - É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se conseguires julgar-te bem, eis um verdadeiro sábio. (cap. 10)

13 - Para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores. (cap. 11)

14 - [...] só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. (cap. 21)

15 - Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. (cap. 21)

O homem cultiva cinco mil rosas num mesmo jardim... e não encontra o que procura. E no entanto o que ele busca poderia ser achado numa só rosa, ou num pouquinho de água. Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração... (cap. 25)

                                                                  MIGUEL DE CERVANVES  

       Miguel de Cervantes Saavedra

             O Engenhoso Fidalgo D. Quxote de La Mancha 

                         

Editora José Aguilar ltda, 1960, 1ª edição

Título original: EL INGENIOSO HIDALGO DON QVIXOTE DE LA MANCHA

Tradução dos viscondes de Castilho e Azevedo

01 – Acontece muitas vezes ter um pai um filho feio extremamente desengraçado, mas o amor paternal lhe põe uma venda nos olhos para que não veja as próprias deficiências; antes as julga como discrições e lindezas, e está sempre a contá-las aos seus amigos, como agudezas e donaires. (p.55)

02 – [...] debaixo do meu manto ao rei mato. (p. 56)

03 – [...] e confirmando-se a si próprio, julgou-se inteirado de que nada mais lhe faltava, senão buscar uma dama de quem se enamorar; que andante cavaleiro sem amores era árvore e sem folhas nem frutos, e corpo sem alma. (p. 77)

04 – Condimento é azul sobre o ouro da formosura; e demais, o rir sem causa grave denuncia sandice. (p.83)

05 – [...] e se há de dizer toda a verdade, não faz menos o soldado que executa o que lhe manda o capitão, que o próprio capitão que lho ordena. (p. 146)

06 – [...] se o sapateiro dá noutrem com a fôrma que na mão tem, posto que ela seja realmente de pau, nem por isso se dirá que levou paulada aquele em quem deu. (p. 163)

07 – [...] pouco m importa saber se foram afronta, ou não, as bordoadas; o que me importa são as dores delas, que hão de ficar tão impressas na memória, como no espinhaço. (p. 164)

08 – [...] não há lembrança que não se gaste com o tempo, nem dor que por morte não desapareça. (p. 164)

09 – [...] só quem faz mais que outrem é que é mais que outrem. (p. 188)

10 – [...] nem a lança doma a pena, nem a pena doma a lança. (p. 189)